Ela estava se perdendo no mundo dos livros e ele já havia
se perdido há muito tempo. Por isso, nem no orbe das letras eles se
encontravam. Ela se deliciava com as narrativas de Nicholas Sparks, ele imergia no
sentimento de ‘não-pertencer’ do Albert Camus. Ela se debruçava em teorias
organizacionais, enquanto ele ficava cada vez mais confuso, fazendo uma ‘vitamina’
de Poe, Saramago e Kafka, ao invés de estudar os livros solicitados na
Faculdade. Ela lia Max Lucado, enquanto ele preferia os “hereges” Ricardo
Gondim e Rubem Alves. Na Bíblia, ela se deleitava com as parábolas de Jesus e
ele se mantinha ranzinza, em um eterno Eclesiastes. Ela entoava os Salmos com
mais beleza que Davi e ele, desafinado, recitava os Provérbios com a voz rouca.
Até que, quando ambos decidiram passear pelas árvores de Cantares, deram conta
da existência um do outro. Então, ele ergueu os olhos do livro e mirou o
sorriso dela, que era a materialização da beleza. E ela viu os olhos tristes dele.
E ouviu o silêncio que gritava dentro dele. Fecharam os livros. E a vida se
abriu para os dois, como uma página em branco.
por Jénerson Alves Texto publicado na Coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco - ed. 625 Ao lado de outros poetas de Caruaru, entrei no apartamento onde o professor Reginaldo Melo está internado há três semanas, em um hospital particular. Ele nos recebeu com alegria, apesar da fragilidade física. Com a voz bem cansada, quase inaudível, um dos primeiros assuntos que ele pediu foi: “Ajudem-me a publicar o cordel sobre o Rio Ipojuca, que já está pronto, só falta ser levado à gráfica”. Coincidentemente, ele estava com uma camisa de um Encontro sobre a questão hídrica que participou em Goiás. Prof. Reginaldo (centro), ao lado de Espingarda do Cordel (e) e Jénerson Alves (d) Durante o encontro no quarto do hospital, ocorrido na última semana, quando Olegário Filho, Nelson Lima, Val Tabosa, Dorge Tabosa, Nerisvaldo Alves e eu o visitamos, comprometemo-nos em procurar os meios para imprimir o cordel sobre o Rio Ipojuca, sim. Além disso, vamos realizar – em n