Dois felinos residiam
Em uma mesma mansão,
Mas um percorria os quartos;
Outro, somente o porão.
Eram iguaizinhos no pelo,
Contudo, na sorte, não.
Mas um percorria os quartos;
Outro, somente o porão.
Eram iguaizinhos no pelo,
Contudo, na sorte, não.
Um tinha mimo e ração;
O outro, lixo e perigo.
Um vivia igual um príncipe;
O outro, feito um mendigo
(Que sem cometer delito
Sofre só o seu castigo).
O outro, lixo e perigo.
Um vivia igual um príncipe;
O outro, feito um mendigo
(Que sem cometer delito
Sofre só o seu castigo).
No telhado do abrigo
Certa vez se encontraram.
Ante a tela do contraste,
Os dois bichanos pararam
E a Lua foi testemunha
Do diálogo que travaram.
Certa vez se encontraram.
Ante a tela do contraste,
Os dois bichanos pararam
E a Lua foi testemunha
Do diálogo que travaram.
Quando eles se olharam,
Disse o rico, em tom amargo:
“Tu és mísero vagabundo,
Eu sou do mais alto cargo!
Sou nobre, sou mais que tu!
Portanto, passa de largo!”
Disse o rico, em tom amargo:
“Tu és mísero vagabundo,
Eu sou do mais alto cargo!
Sou nobre, sou mais que tu!
Portanto, passa de largo!”
O pobre disse: “O teu
cargo
Foi a sorte quem te deu!
Nasceste em berço de luxo,
Cresceste no apogeu!
Mias, caças, comes ratos…
Em que és mais do que eu?
Foi a sorte quem te deu!
Nasceste em berço de luxo,
Cresceste no apogeu!
Mias, caças, comes ratos…
Em que és mais do que eu?
Logo, este orgulho teu
Não há razão pra ser forte…
Vieste nu para a vida,
Nu voltarás para a morte!
Não chames, pois, de nobreza
O que é apenas sorte”.
Não há razão pra ser forte…
Vieste nu para a vida,
Nu voltarás para a morte!
Não chames, pois, de nobreza
O que é apenas sorte”.
Quem não se importa com o
porte,
Não se julga potestade,
Prova do pão da pureza,
Sente o gosto da humildade
E, ternamente, transmite
A luz da fraternidade.
Não se julga potestade,
Prova do pão da pureza,
Sente o gosto da humildade
E, ternamente, transmite
A luz da fraternidade.
Baseado em fábula narrada por Monteiro Lobato.