Foi bom. Gritei, pulei, participei de “trenzinhos” e “círculos” frenéticos e animados. Confesso que também fiquei frenético e animado. Estou me referindo à minha conduta durante a Marcha com Jesus, evento que houve em nossa cidade, no dia 27 de setembro. Logo de início, fiquei maravilhado com as milhares de pessoas que lotaram a Avenida Agamenon Magalhães, tendo como fundo musical canções religiosas com letras embasadas na Palavra do Senhor. Essa é a prova viva do nosso poder de mobilização, de quanto o nosso povo, apesar das distinções doutrinárias, se une em prol de um serviço mais amplo. Fiquei feliz ao ver, no final da festa, que milhares de pessoas se reuniram, mas não houve um acidente ou incidente, bem como não houve um cigarro aceso, tampouco houve uma lata de cerveja ou aguardente aberta, pois era o povo do Senhor Jesus que estava reunido. Foi lindo rever irmãos(ãs) das mais diversas denominações, todos estampando um sorriso no rosto, com os olhos brilhando de emoção. Mais lindo ainda foi poder liberar sentimentos que ficam reprimidos por causa das atividades cotidianas. Oportunidades de expressar essas emoções contidas minimizam o “desencantamento com o mundo” (utilizando uma expressão weberiana) que macula o coração da gente. O atraso no início da caminhada e o problema com um dos três trios elétricos não foram motivos para impedir a diversão.
Contudo, após a “catarse” da tarde/noite anterior, começo a me indagar acerca do evento. Até porque eu concordo com o apóstolo Paulo, no que diz respeito à conciliação entre razão e fé, implícita no texto bíblico de Atos 17:16-34. Ou seja, embora o entendimento espiritual transcenda o conhecimento racional, não o elimina; permitindo-nos, então, refletir sobre o tema. Até que ponto movimentos dessa natureza podem, realmente, transformar o cenário horrendo no qual as famílias se encontram atualmente? Qual o impacto social que tais programas podem trazer? Qual é, realmente, a diferença cristã apresentada à sociedade? Mesmo que, olhando direitinho, não há muita diferença entre as festas assim e as manifestações carnavalescas que acontecem durante o nosso São João, as quais critico ferozmente. Não foram poucos os gritinhos das adolescentes quando um certo cantor se apresentou ao público. E, suponho que os assovios e as expressões “lindo!”, “gato!” e “Aaahhhh!” não eram direcionados a Jesus… Difícil não me lembrar do São João… Enquanto a “festa mundana” despreza os valores regionais para enaltecer o “tecnobrega”, “bregapop”, “estilizado” ou quaisquer das outras nomenclaturas que caracterizam a “fuleiragem music” (conforme expressão acadêmica), nós seguimos o exemplo de Jerusalém, ao nos esquecermos de nossos “profetas/cantores”. É verdade que os cantores de “pop rock gospel” com prestígio nacional apresentam músicas de grande qualidade, das quais sou admirador confesso. Entretanto, sinto falta de ver cantores evangélicos de estilo regional em eventos de grande público. O que estou dizendo é que, pessoalmente, anelo vislumbrar os cantores da terra também cantando para aproximadamente 30 milhões de pessoas, seja nesse evento, seja em outros…
Não quero que o “oba-oba” do momento cegue os irmãos. Por falar nisso, será que, após a folia, pudemos enxergar a quantidade de mendigos pelo centro da cidade? Eles são o retrato da desigualdade social que enodoa nosso país; não vê-los é reflexo do pensamento ensimesmado dos seres individualistas contemporâneos. É a antítese dos “objetivos solidários” do evento. Creio que profetizar sobre Caruaru vai mais além do que simplesmente dizer que “Caruaru é de Jesus”, é necessário um envolvimento firme, coerente e responsável com o contexto atual, minimizando as injustiças e mazelas sociais. Não creio que os traumas familiares, oriundos da secularização da vida, serão extirpados por meio de movimentos semelhantes aos festejos laicos da cidade. A massificação constatada na passeata suprime a individualidade do cristão, contrapondo-se à noção de “caminho estreito” como conceitos, ideais e idiossincrasia pessoal. É meu desejo que sejamos conhecidos como servos de Cristo por causa de nosso relacionamento enquanto “comunidade”, não como “conglomerado”. Que os gritos “proféticos” de que “Caruaru é de Jesus” ecoem permanentemente em nossos ouvidos e, junto com eles, a certeza de que, para que isso aconteça, cada um de nós, individualmente, deve exalar o cheiro de Cristo.
Quero encerrar o texto por aqui. Portanto, farei de tudo para ser o mais claro possível. Não estou condenando o evento, nem quem vai (até porque eu fui), tampouco quem organizou. Estou querendo tão-somente destacar seu papel, o qual é (a meu ver), pura e simplesmente divertir os cristãos. Só não podemos deixar que isso nos faça esquecer do nosso papel enquanto discípulos de Jesus: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”(Tiago 1:27). Isso não se aprende na avenida, mas no templo; e não se pratica mecanicamente, mas apenas após a vivificação pelo Espírito. Quanto à marcha, estou esperando o próximo ano, para que eu grite, pule, participe de “trenzinhos” e “círculos” novamente, se Deus quiser. Mas que eu não perca minha racionalidade e não me julgue estar fazendo grande obra por estar pulando e gritando enquanto muitas vidas perecem sem Cristo…
Jénerson Alves
Contudo, após a “catarse” da tarde/noite anterior, começo a me indagar acerca do evento. Até porque eu concordo com o apóstolo Paulo, no que diz respeito à conciliação entre razão e fé, implícita no texto bíblico de Atos 17:16-34. Ou seja, embora o entendimento espiritual transcenda o conhecimento racional, não o elimina; permitindo-nos, então, refletir sobre o tema. Até que ponto movimentos dessa natureza podem, realmente, transformar o cenário horrendo no qual as famílias se encontram atualmente? Qual o impacto social que tais programas podem trazer? Qual é, realmente, a diferença cristã apresentada à sociedade? Mesmo que, olhando direitinho, não há muita diferença entre as festas assim e as manifestações carnavalescas que acontecem durante o nosso São João, as quais critico ferozmente. Não foram poucos os gritinhos das adolescentes quando um certo cantor se apresentou ao público. E, suponho que os assovios e as expressões “lindo!”, “gato!” e “Aaahhhh!” não eram direcionados a Jesus… Difícil não me lembrar do São João… Enquanto a “festa mundana” despreza os valores regionais para enaltecer o “tecnobrega”, “bregapop”, “estilizado” ou quaisquer das outras nomenclaturas que caracterizam a “fuleiragem music” (conforme expressão acadêmica), nós seguimos o exemplo de Jerusalém, ao nos esquecermos de nossos “profetas/cantores”. É verdade que os cantores de “pop rock gospel” com prestígio nacional apresentam músicas de grande qualidade, das quais sou admirador confesso. Entretanto, sinto falta de ver cantores evangélicos de estilo regional em eventos de grande público. O que estou dizendo é que, pessoalmente, anelo vislumbrar os cantores da terra também cantando para aproximadamente 30 milhões de pessoas, seja nesse evento, seja em outros…
Não quero que o “oba-oba” do momento cegue os irmãos. Por falar nisso, será que, após a folia, pudemos enxergar a quantidade de mendigos pelo centro da cidade? Eles são o retrato da desigualdade social que enodoa nosso país; não vê-los é reflexo do pensamento ensimesmado dos seres individualistas contemporâneos. É a antítese dos “objetivos solidários” do evento. Creio que profetizar sobre Caruaru vai mais além do que simplesmente dizer que “Caruaru é de Jesus”, é necessário um envolvimento firme, coerente e responsável com o contexto atual, minimizando as injustiças e mazelas sociais. Não creio que os traumas familiares, oriundos da secularização da vida, serão extirpados por meio de movimentos semelhantes aos festejos laicos da cidade. A massificação constatada na passeata suprime a individualidade do cristão, contrapondo-se à noção de “caminho estreito” como conceitos, ideais e idiossincrasia pessoal. É meu desejo que sejamos conhecidos como servos de Cristo por causa de nosso relacionamento enquanto “comunidade”, não como “conglomerado”. Que os gritos “proféticos” de que “Caruaru é de Jesus” ecoem permanentemente em nossos ouvidos e, junto com eles, a certeza de que, para que isso aconteça, cada um de nós, individualmente, deve exalar o cheiro de Cristo.
Quero encerrar o texto por aqui. Portanto, farei de tudo para ser o mais claro possível. Não estou condenando o evento, nem quem vai (até porque eu fui), tampouco quem organizou. Estou querendo tão-somente destacar seu papel, o qual é (a meu ver), pura e simplesmente divertir os cristãos. Só não podemos deixar que isso nos faça esquecer do nosso papel enquanto discípulos de Jesus: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”(Tiago 1:27). Isso não se aprende na avenida, mas no templo; e não se pratica mecanicamente, mas apenas após a vivificação pelo Espírito. Quanto à marcha, estou esperando o próximo ano, para que eu grite, pule, participe de “trenzinhos” e “círculos” novamente, se Deus quiser. Mas que eu não perca minha racionalidade e não me julgue estar fazendo grande obra por estar pulando e gritando enquanto muitas vidas perecem sem Cristo…
Jénerson Alves