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A magnanimidade é burra – ou, “magnânimo é mandar à merda”

Por: Juliana Dacoregio, jornalista e escritora

Como você consegue, hein?! Como consegue me ler assim? Enxergar-me; olhar onde poucos olham? Ah já sei. Você olha onde tão poucos olham, porque poucos são os que têm esses olhos de águia, de gata, de coruja. Nós temos. Nós sabemos que os temos. Por isso deveríamos sempre achar o caminho de volta ao cinismo diante dos que nos diminuem. O caminho de volta ao amor-próprio, depois de cada bomba lançada sobre nossa auto-estima.




Eu sei, é difícil mesmo ver o que você enxerga, porque eu mostro muitas coisas que tapam a visão dos incautos. Mas não estamos aqui para deixarmos nossas almas mastigadinhas para que as entendam, não é? Até porque, é o óbvio ululante: os que não querem entender nunca irão entender. Ou entenderão, mas farão questão de destilarem deboche diante de nossas almas nuas e mastigadas. Não conseguindo engolir, cospem. Cospem junto seus venenos, suas dores, suas malícias e frustrações.



Comerei chocolates, sim. Comerei chocolates, procurando neles o meu cinismo perdido, minhas gargalhadas insolentes de desprezo a tudo que não me preenche. Comerei chocolates e lembrarei de textos como este e de pessoas como você. Lembrarei disso e disso e disso e disso. E quando lembrar daquilo, lembrarei do ditado tão popular e tão simples em sua verdade: quem desdenha quer comprar. Querem me comprar, eu sei. Querem me calar, querem me encaixar, querem-me chorando, doente, sofrendo inutilmente por causa de suas mediocridades.



Você tem razão. Eles sabem melhor do que eu administrar os próprios defeitos e os transformam em qualidades e opressão diante de meus olhos grandiosos. Grandiosos sim, porque compreendem tudo, até mesmo aqueles que não compreendem nada.



Combinamos que eu não seria magnânima, não é? Não voltei atrás no acordo, mas, ah essa minha tendência de esquecer tão rápido o que me joga para cima! Ah, essa minha bobagem de flertar com a noção falsa de perdão. Perdão para que? Perdão por que? Para brincar de Cristo? Para conviver com os que me apunhalam pelas costas, com os que me alfinetam, me agridem gratuitamente em suas conversinhas públicas e virtuais? Eu sei. Eu sei, amiga. Eles queriam ser como eu. Queriam minha beleza, queriam minha inteligência, queriam minha ousadia – que faz, de minha própria desgraça, motivo para que muitos me olhem e pensem “ah, então não sou só eu”.



Por que dar ouvidos a eles se eu estou tão mais acima, não é mesmo? E se estou acima é porque sei que minha missão (por mais dolorida que seja) é mostrar que eu sofro. Que eu sofro e rio. Que eu sofro e brindo. Que eu sofro e continuo. Que eu caio trezentas vezes e levanto mil!



Então, a partir de hoje eu prometo: ressuscitarei meu cinismo cheio de mim e modesto, minha egolatria divertida, minhas verdades profundas e bobas. Renascerei das cinzas com meus clichês e minha autenticidade, pois eles são o que tenho para me manter de pé. E pé ante pé, correrei. Quando for preciso, devagar e, quase sempre, andarei. Arrastarei os pés, berrarei na praia, uivarei para a lua, para a grandeza do que sou, para a falibilidade do meu ser.



Continuarei rasgando meus pulsos, mas só para deixar sair deles sangue e flores. Nunca vergonha.



Porque estou no palco para ser aplaudida, mas também para servir de exemplo, de incentivo, de força. E se uns tantos gatos coitados jogarem tomates podres, o que importa? Alguns só tem mesmo sua podridão para dar.







E o post que gerou esse desabafo/libertação foi o seguinte:



Queria saber o que aconteceu contigo, que anda se apequenando diante de toda essa gente besta que sabe melhor que você administrar os próprios defeitos e torná-los qualidades aos teus olhos sempre tão humildes. Nós tínhamos combinado que não seria assim. Tinhamos entrado em um acordo: magnânimo é mandar à merda!



Defeitos, é claro, todo mundo tem. Eu e você temos vários e eles são mais mordazes até do que o sorriso falso da tal gente besta que nos cerca. Mas é preciso um certo cinismo, sabe? Um cinismo assim cheio de si e modesto ao mesmo tempo. De ter certeza, de se achar boa e o mundo inteiro concordar, de boca aberta. Afinal, o mundo todo acaba concordando com o que quer que se diga – taí a gente batendo palma pra babaca sem nem dar por isso, sem nem perceber a idiotice da coisa toda.



Chegando em casa, chora. Esperneia. Come chocolates, pequena.



Mas, diante deles, não abaixe a cabeça. Usa o teu cinismo. Continue assim.



Preste atenção na rua, nos sinais, nas cartas que chegam do correio. Em você.



E magnanimamente, mande o resto à merda.



(Tati Lopatiuk – Elvis Costello Gritou Meu Nome)

Fonte: http://julianadacoregio.opsblog.org/2011/02/22/a-magnanimidade-e-burra-ou-magnanimo-e-mandar-a-merda/

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