Pular para o conteúdo principal

Eu sou herege



Sinceramente, me sinto cada vez mais deslocado no ambiente evangélico hodierno. Cada vez mais, percebo que não me encaixo nos padrões religiosos, que minha visão é dissonante e que meus pensamentos não são iguais aos da maioria.
Um dia desses, conversei com uma grande amiga, e compartilhei que me sentia um herege. Na verdade, ela se escandalizou um pouco com a minha declaração. No fundo, no fundo, eu acho que gostaria de voltar a um passado não tão distante, no qual eu cria que os pregadores falavam “usados pelo Espírito Santo”, que as orações resolviam problemas pessoais e que as questiúnculas protestantes (piercings, tatuagem, roupas, músicas “mundanas” e tal) eram temas da mais alta relevância social, pois traduziam verdades espirituais.
Mas não consigo. Não me enquadro nos parâmetros ortodoxos da igreja evangélica contemporânea. Sou um herege. Todavia, vale lembrar que a palavra ‘heresia’ vem do grego, ‘haíresis’, cujo significado literal é 'escolha'. Herege, portanto, é quem escohe aquilo que pode ser feito (embora muitos digam que não seja).
Precisamos entender que quem levanta heresia é aquele que suspeita de quem se diz dono da razão. Assim sendo, sigo um dos maiores hereges da humanidade. Jesus escolheu seguir o caminho estreito, mesmo quando o judaísmo o ensinava a fazer outras coisas.
Ele curou no sábado, mesmo quando não podia.
Ele perdoou os pecadores, a exemplo de Maria Madalena, mesmo quando os religiosos tiravam pedras do coração para matar lentamente.
Hoje eu sou herege, diante de uma igreja apóstata. Prefiro seguir o Caminho de um andarilho que iniciou um movimento com pescadores, não com políticos. Detenho-me na mensagem de um homem que ensinava o amor e o perdão, ao invés dos rigores e rancores. Desejo inspirar-me nAquele que se entregou à Cruz e não se rendeu ao ‘poder’. Quero conectar-me ao Alto. Busco segui-Lo, amá-Lo.
Não me considero digno de nada, não sou representante de nada, não sou ‘poderoso’, não piso em demônios, não curo. Mas creio que Ele está conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. E acho que isso basta. A presença dEle faz com que qualquer existência se transforme em Céu...

Por Jénerson Alves
23-04-2011, 0h17

Postagens mais visitadas deste blog

O gato vaidoso - poema de Jénerson Alves

Dois felinos residiam Em uma mesma mansão, Mas um percorria os quartos; Outro, somente o porão. Eram iguaizinhos no pelo, Contudo, na sorte, não. Um tinha mimo e ração; O outro, lixo e perigo. Um vivia igual um príncipe; O outro, feito um mendigo (Que sem cometer delito Sofre só o seu castigo). No telhado do abrigo Certa vez se encontraram. Ante a tela do contraste, Os dois bichanos pararam E a Lua foi testemunha Do diálogo que travaram. Quando eles se olharam, Disse o rico, em tom amargo: “Tu és mísero vagabundo, Eu sou do mais alto cargo! Sou nobre, sou mais que tu! Portanto, passa de largo!” O pobre disse: “O teu cargo Foi a sorte quem te deu! Nasceste em berço de luxo, Cresceste no apogeu! Mias, caças, comes ratos… Em que és mais do que eu? Logo, este orgulho teu Não há razão pra ser forte… Vieste nu para a vida, Nu voltarás para a morte! Não chames, pois, de nobreza O que é apenas sorte”. Quem não se impor

Professor Reginaldo Melo

por Jénerson Alves Texto publicado na Coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco - ed. 625 Ao lado de outros poetas de Caruaru, entrei no apartamento onde o professor Reginaldo Melo está internado há três semanas, em um hospital particular. Ele nos recebeu com alegria, apesar da fragilidade física. Com a voz bem cansada, quase inaudível, um dos primeiros assuntos que ele pediu foi: “Ajudem-me a publicar o cordel sobre o Rio Ipojuca, que já está pronto, só falta ser levado à gráfica”. Coincidentemente, ele estava com uma camisa de um Encontro sobre a questão hídrica que participou em Goiás. Prof. Reginaldo (centro), ao lado de Espingarda do Cordel (e) e Jénerson Alves (d) Durante o encontro no quarto do hospital, ocorrido na última semana, quando Olegário Filho, Nelson Lima, Val Tabosa, Dorge Tabosa, Nerisvaldo Alves e eu o visitamos, comprometemo-nos em procurar os meios para imprimir o cordel sobre o Rio Ipojuca, sim. Além disso, vamos realizar – em n

A Vocação de São Mateus

  Dentre as obras de Caravaggio, ‘A Vocação de São Mateus’ é uma das que mais provocam debates e reflexões. A tela, com traços realistas, parece fazer saltar ao mundo real o que está expresso no versículo 09 do capítulo 09 do Evangelho de S. Mateus: “Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: ‘Siga-me’. Mateus levantou-se e o seguiu”. O domínio da luz, inerente à verve do pintor barroco, é evidente na obra. O contraste da luz que entra pela janela no ambiente escuro parece representar o contato do mundo espiritual com o terreno – este reproduzido no grupo de pessoas à mesa e aquele pela figura do Senhor Jesus Cristo ao lado de São Pedro. Os indivíduos sentados à mesa parecem ter idades e posições sociais distintas. O mais relevante deles é Mateus, trajado de forma elegante e com uma postura de proeminência. Sem dúvida, uma boa exibição do que seria a conduta dos cobradores de impostos do primeiro século. No texto neotestamentári