Certa vez, Sergio Vaz registrou, em um artigo, alguma coisa como: “os poetas são homens tristes que vendem alegria”. Concordo com isso. É fácil para os poetas vender alegria, embrulhada nas capas dos livros, através de versos revestidos de lirismo que fazem brotar sorrisos nos lábios dos sensíveis leitores. Porém, nunca queira conhecer um poeta de perto. Mais do que isso. Não queira ser um. A alegria traduzida nas frases dessa classe não passa de um paradoxo, diante das agruras e contradições inerentes ao espírito de tais artistas. Eles vivem aprisionados a angústias existenciais inexplicáveis e irritantes.
Minto. Não posso empregar a terceira pessoa nesse texto. Não posso dizer que tais palavras podem se referir a todos os poetas na face da terra. Não. O que posso é confessar que falo de mim mesmo. O que posso é reconhecer que estou tomado pela mediunidade literária, lançando frases ao ar, sem nem me importar se elas irão cair em solo fértil ou não.
Não consigo trazer para o mundo real a felicidade que desenho em meus versos. Não sou capaz de converter lágrimas em sorrisos. Não sou tão compreensivo quanto deveria. Não sou tão sábio quanto acham. Não sou tão forte como o mundo exige.
Reconheço que não sou a melhor companhia. Nem para uma festa, nem para um passeio, nem para um trabalho... muito menos para uma vida. Compreendo que minhas loucuras são incompreensíveis. Confirmo que sou desnecessário. Lamento porque não sou fundamental.
Nem sempre consigo explicar meus clamores. Minhas dores. Busco flores. Há amargores. Temores. Tremores. Horrores...
Ah... é tão fácil pintar um cenário de aurora com a tinta das metáforas e o quadro das ilusões! É tão difícil enxergar esperança em um raio de Sol verdadeiro que fulge no horizonte no momento que o véu noturno vai sendo despedaçado no infinito.
Como eu queria poder doar aos que estão perto de mim as delícias que decanto em minhas canções! Não posso. Sou cantor de uma paz externa, mas em meu íntimo há um lúgubre barulho de melancolia. Não converso com as flores, não sou amigo do arco-íris, as nuvens não me conhecem. A Lua não se inclina para mim. O mar não respeita minha voz. O vento não leva minhas emoções para onde eu gostaria de levá-las.
Vivo de fantasias. Engano a mim mesmo quando as denomino de ‘sonhos’. Meus idílios são projeções surreais, sem qualquer conexão com a realidade. Esmoreço diante do deserto do nu, do cru. Quero cobrir-me com o verde manto da esperança. Espera-nça. Ex-perança...
Não sigo um raciocínio linear. Aliás. Nem raciocino. Meu destino é sem tino. É um des. Des-esperado. Des-iludido. Des-conhecido.
Deixo que as lágrimas irriguem minha face sem brilho. Mas sigo. Prossigo. O castigo que digo consigo... Me fadigo. Mas trilho. Cada empecilho. Não sou forte. Nem tenho sorte.
Sigo um D-us que se matou por amor a um monte de gente que não O entende, nem O busca, nem O vê. E esse mesmo D-us ressuscitou para ver que essa gente toda (tola) é frágil, sem norte... (Mas um fiapo de olhar dEle acende o sentido da existência).
Pois é. Sou isso. Assim. Enfim, em mim, tintim por tintim. Sem pantim. Meus versos, diversos, são imersos em prantos... tantos... minhas angústias servem para fazer textos. Pelo menos isso.. apenas isso...
Jénerson Alves
09-09-2011; 0h12.