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Valorizando a nova geração


O título desse artigo é o tema abordado em 2013 pelas igrejas ligadas à Convenção Batista Brasileira (CBB). A entidade reúne mais de 1 milhão de pessoas, espalhadas em quase 8 mil igrejas pelo país. O desafio de valorizar a nova geração imbrica-se ao objetivo de estimular os cristãos batistas de todo o país a valorizar as crianças, adolescentes e jovens, com ações educacionais e sociais que possibilitem o desenvolvimento espiritual, físico e mental da nova geração, como também promover o combate à violência, pedofilia, prostituição e trabalho infantil. Para isso, portanto, é necessário investir em diversos tipos de atividades, cujo intento seja a transformação da sociedade através da inserção do Evangelho na Cultura. De modo que essa ‘nova geração’ integra tanto os membros da comunidade religiosa, como também – e talvez principalmente –os chamados“não-cristãos”.
Vive-se um momento em que a juventude passa por grandes dilemas. Muitas vezes desassistida do Estado, essa parcela da população carece de esclarecimentos e de um norte na existência. Para se ter uma ideia, dados do Censo Escolar da Educação Básica do ano de 2011 mostram que a população brasileira na faixa de 15 a 17 anos é de 10,4 milhões de jovens, embora apenas 8,4 milhões frequentam o Ensino Médio. Os outros ou estão em uma etapa escolar anterior ou está fora da escola. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) também de 2011 mostra que 1,7 milhão de adolescentes não está nas instituições de ensino.
A violência é uma realidade preocupante. A despeito dessas discussões sobre a redução da maioridade penal, trazidas à baila recentemente, o que se percebe é que a juventude morre mais do que mata no País. Dados do Ministério da Saúde expõem que 53,3% dos 49.932 assassinatos no Brasil em 2010 eram de jovens. Destes, 76,6% eram negros e 91,3% do sexo masculino. O envolvimento com drogas, prostituição, ausência de políticas públicas coerentes, a educação fragmentada e a precarização do mercado de trabalho formam um mosaico de fatores incidem na desigualdade social e nos desafios para a consolidação de uma juventude capaz de lidar com as demandas do mundo hodierno.
Nesse cenário, faz-se necessário, realmente, a igreja adotar uma posição de protagonismo social, cumprindo o que está expresso em Romanos 12:2: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".

Vale lembrar que a denominação religiosa tem um destacado trabalho social com o foco na juventude, a exemplo do projeto Missão Batista Cristolândia, que atende a viciados em drogas, reabilitando-os à sociedade. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco e o Distrito Federal também contam com unidades da Cristolândia. Não se pode, também, deixar de citar que as atividades eclesiásticas resultam em bons frutos na vida dos membros. Escolas bíblicas, estudos doutrinários, musicais, teatro, são ferramentas educacionais que cada igreja local dispõe e que fortalecem a juventude.
Infelizmente, paralelamente a esse cenário, há um clima de alienação e de manipulação nas igrejas, no qual a valorização da nova geração passa a ser uma mera falácia. Os órgãos representativos das igrejas batistas necessitam ser mais atuantes na sociedade, traçando uma agenda conectada com as demandas sociais. Temas como Meio Ambiente, Violência, Mercado de Trabalho, Família, Cultura, Políticas Públicas devem ser abordados no meio religioso, traduzindo um novo olhar para essas questões, baseado nos princípios da Palavra do Senhor.
A autonomia eclesiástica das comunidades – igrejas e congregações – deve estar em consonância com propósitos maiores recomendados pelos órgãos (Convenções, Juntas, Associações), no intuito de promover uma unidade de visão, ou seja, de fé. Para isso, as reuniões nesse tipo de associação não podem ficar restritas a picuinhas ou a meros assuntos internos. As igrejas locais devem adotar calendários que assumam um protagonismo social. Entretanto, atividades como festivais de sorvetes ou massas, ‘louvorzões’, campeonatos esportivos e cultos jovens de ‘oba-oba’ têm sido a marca registrada da maior parte das igrejas.
Com isso, prova-se um anseio em aumentar a quantidade de membros na igreja – o que, aparentemente, apenas traduz-se em mais valor nas entradas pecuniárias – desvencilhado da preocupação pela formação cristã, crítica e cidadã desses membros, o que resulta na qualidade da atuação do cristão enquanto no mundo.
Simpósios, seminários, estudos e orações devem ser enfatizados, para que haja um fortalecimento da escola bíblica e consequentemente uma mudança na conduta dos batistas com relação aos mais diversos assuntos. Evangelismo, ações sociais, plenárias sobre políticas públicas, emissão de documentos com o posicionamento denominacional acerca de temas controversos, entre outras medidas, devem fazer parte da ação dos cristãos no mundo. Para isso, é necessário que as comunidades locais deixem de lado os interesses menores e abracem uma causa maior. Porém, isso só vai acontecer quando as instâncias superiores também desprenderem-se de pensamentos inferiores.

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