O Evangelho não é um amontoado de versículos, que se decora
e repete em reuniões solenes ou na escuridão do quarto, quando tomados de um
pavor inexplicável. O Evangelho está além de todos os chavões, de todos os
sermões, de todos os livros, de todos os cânticos, de todos os programas, de
todos os eventos já feitos (e que ainda serão feitos) em nome de D-us. O Evangelho
não cabe em meus versos, nem nos vídeos compartilhados no Facebook, nem nos
minutos de exposição dos teólogos. O Evangelho é indescritível, é inenarrável,
impronunciável. O Evangelho é improclamável, por isso o Verbo se fez carne. Pelo
Evangelho, a habitação do Verbo deixa de ser a Gramática e passa a ser o
Coração.
Esse fenômeno é uma loucura. Maior do que qualquer fantasia,
do que qualquer roteiro de filme de suspense, maior do que qualquer inspiração onírica.
Nem H. P. Lovercraft seria capaz de sonhar com tal insanidade. Os quadros de
Salvador Dali, diante da revelação do Evangelho, são meras pinturas de criança.
A inexplicabilidade do Evangelho não significa incompreensão.
Pelo contrário, apenas aponta para a insuficiência das palavras. O que é
expresso pela mensagem do Cristo não cabe na linguagem humana. As prédicas expõem
apenas fragmentos dessa luz. O olhar, a mudança de vida, a transformação
exterior, tudo isso são simples parágrafos, diante da grandiosidade dessa
mensagem inexprimível.
O Evangelho é a Vida. É a Vida abundante que se revela
mediante a revelação do Nome. É a ampliação de consciência. É o esgotamento do
individualismo e a penetração no Reino do Absoluto. É a sintonia com o Sublime,
a devoção ao Belo. É enxergar resquícios de luz em meio às trevas. É ter
conforto diante de pesadelos reais. É enfrentar a noite com a certeza do dia. É
ter um céu no coração e dividi-lo na terra.
A meditação nas Sagradas Escrituras, a participação em uma
comunidade religiosa, a audição de prédicas e cânticos espirituais fazem parte
do processo de encanação dessa mensagem. No entanto, todas essas coisas só têm sentido
quando se imiscuem nos recônditos do espírito, quando se entranham na essência do
ser. O Evangelho é um absurdo imponderável. Não há como compreendê-lo, pois ele
não é um aquário que pode ser observado. O Evangelho é um oceano. É preciso
mergulhar.
Jénerson
Alves (www.jenersonalves.blogspot.com)