Aprendemos a entender Deus como um Ser etéreo, que paira nos
mais altos céus. Ora com uma mão de ferro, para nos julgar, ora totalmente desinteressado
com nossas angústias e inquietações. Na Bíblia, vemos a revelação de um Deus
que sempre fez de tudo para se relacionar com o ser humano. No Antigo
Testamento, Ele próprio estabeleceu uma tenda para que pudesse estar com Israel
no deserto. No Evangelho, Ele se fez carne e habitou entre nós. Atualmente, Ele
mora dentro de quem O invoca. A manifestação dEle não se traduz em pirotecnia,
em grandes milagres, em eventos gigantescos, nem em pressões políticas. Pelo contrário.
O Eterno habita na senda do transitório, do efêmero. O Sublime se veste de
simplicidade. Seu aroma é percebido nas mais puras expressões de amor. No carinho
de um filho para os pais (e dos pais para os filhos), na mão que ajuda o
necessitado, na lágrima que rola por causa da dor alheia, no riso sincero pelo
bem comum, no brilho do olhar que revela esperança.
Dois felinos residiam Em uma mesma mansão, Mas um percorria os quartos; Outro, somente o porão. Eram iguaizinhos no pelo, Contudo, na sorte, não. Um tinha mimo e ração; O outro, lixo e perigo. Um vivia igual um príncipe; O outro, feito um mendigo (Que sem cometer delito Sofre só o seu castigo). No telhado do abrigo Certa vez se encontraram. Ante a tela do contraste, Os dois bichanos pararam E a Lua foi testemunha Do diálogo que travaram. Quando eles se olharam, Disse o rico, em tom amargo: “Tu és mísero vagabundo, Eu sou do mais alto cargo! Sou nobre, sou mais que tu! Portanto, passa de largo!” O pobre disse: “O teu cargo Foi a sorte quem te deu! Nasceste em berço de luxo, Cresceste no apogeu! Mias, caças, comes ratos… Em que és mais do que eu? Logo, este orgulho teu Não há razão pra ser forte… Vieste nu para a vida, Nu voltarás para a morte! Não chames, pois, de nobreza O que é apenas sorte”. Quem não se impor