Aprendemos a entender Deus como um Ser etéreo, que paira nos
mais altos céus. Ora com uma mão de ferro, para nos julgar, ora totalmente desinteressado
com nossas angústias e inquietações. Na Bíblia, vemos a revelação de um Deus
que sempre fez de tudo para se relacionar com o ser humano. No Antigo
Testamento, Ele próprio estabeleceu uma tenda para que pudesse estar com Israel
no deserto. No Evangelho, Ele se fez carne e habitou entre nós. Atualmente, Ele
mora dentro de quem O invoca. A manifestação dEle não se traduz em pirotecnia,
em grandes milagres, em eventos gigantescos, nem em pressões políticas. Pelo contrário.
O Eterno habita na senda do transitório, do efêmero. O Sublime se veste de
simplicidade. Seu aroma é percebido nas mais puras expressões de amor. No carinho
de um filho para os pais (e dos pais para os filhos), na mão que ajuda o
necessitado, na lágrima que rola por causa da dor alheia, no riso sincero pelo
bem comum, no brilho do olhar que revela esperança.
Dentre as obras de Caravaggio, ‘A Vocação de São Mateus’ é uma das que mais provocam debates e reflexões. A tela, com traços realistas, parece fazer saltar ao mundo real o que está expresso no versículo 09 do capítulo 09 do Evangelho de S. Mateus: “Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: ‘Siga-me’. Mateus levantou-se e o seguiu”. O domínio da luz, inerente à verve do pintor barroco, é evidente na obra. O contraste da luz que entra pela janela no ambiente escuro parece representar o contato do mundo espiritual com o terreno – este reproduzido no grupo de pessoas à mesa e aquele pela figura do Senhor Jesus Cristo ao lado de São Pedro. Os indivíduos sentados à mesa parecem ter idades e posições sociais distintas. O mais relevante deles é Mateus, trajado de forma elegante e com uma postura de proeminência. Sem dúvida, uma boa exibição do que seria a conduta dos cobradores de impostos do primeiro século. No texto neotestamen...