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Planeta dos macacos




Desde que foi inaugurado, em julho, só consegui ir ao cinema de Caruaru hoje. Foi bom. Aliás, mais ou menos. Confesso que eu preferia ter ido com outras companhias – na verdade, com uma certa senhorita especial... Entretanto, não foi possível, mas fui com pessoas altamente inteligentes, amigos de jornada. Apesar de ter de aguentar um sujeito com excesso de peso e falta de modos ao meu lado (que ingeria a pipoca de forma monstruosa e emitia tétricos ruídos).
Pois bem; assisti ao longa ‘Planeta dos macacos: a origem’. O filme, dirigido pelo Rupert Wyatt, tem como tempo da narrativa o período hodierno, no qual o início do desenvolvimento intelectivo dos símios acontece a partir de experiências genéticas, que resultam em uma porfia por liberdade.
E foi essa a impressão maior que eu tive do longa. E não é mais do que isso que eu quero compartilhar com vocês nessas linhas. O personagem principal do filme é um símio chamado César – o qual foi desenvolvido através da interpretação do ator Andy Serkis, por meio do sistema de ‘motion capture’ (que geram para o computador informações que representam as medidas físicas do movimento).
Esse método de concepção do personagem faz uma analogia com a mensagem fundamental emitida pelo César. Da mesma forma que o símio foi produzido a partir do movimento que ficou registrado na máquina, ele deve provocar movimento na mente da plateia. Isso porque há cenas na obra que estimulam a reflexão sobre diversos assuntos, sobretudo a condição humana e o papel da raça no mundo.
Apesar de a obra cinematográfica – baseada no livro ‘Planeta dos Macacos’, lançado em 1963 pelo escritor francês Pierre Boulle (1912-1994) – ter como fundamento teórico a Teoria da Evolução, ela nos impulsiona para a prática concernente à perspectiva criacionista. Eu vou tentar explicar melhor. O evolucionismo traz, em si, a cosmovisão de que, no mundo, existem posições diferentes. Ora, se há espécies mais evoluídas que outras, é porque há seres ‘melhores’ do que os demais. O criacionismo, porém, por admitir que a vida é oriunda de um Ser Vivo e Inteligente, concebe que todas as criaturas ocupam funções diferentes (e não posições). Ou seja, o conhecimento científico criacionista gera implicações filosóficas de natureza tal que impele os seus adeptos a terem um posicionamento mais igualitário concernente ao próximo, bem como à fauna e à flora, de um modo geral.
Como nós vivemos em uma sociedade competitiva, na qual “é cobra engolindo cobra”, essa mensagem se torna revolucionária – assim como o César do filme. É hora de enxergarmos o próximo e o mundo com novas lentes. É hora de pararmos de coisificar os humanos e humanizar as coisas. É hora de repensarmos conceitos e alterarmos atitudes. É hora de assumirmos nossa posição em relação ao mundo. É hora de entender que a existência não se resume ao hedonismo materialista e compulsório ditado pela agenda capitalista. É hora de fechar os olhos para a mídia idiotizante e abrir as janelas da alma para vislumbrar uma nova aurora no horizonte. É hora de entender que “estamos em casa”. Que precisamos cuidar dela. Que precisamos 'ser'.



(Dedico esse texto a todos aqueles que têm ouvidos sensíveis para captar o que há de audível no silêncio e possuem olhos perspicazes, a fim de enxergar as  mensagens que não são traduzidas pelas letras).

Jénerson Alves
29-08-2011; 0h03


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