sábado, 16 de fevereiro de 2013

O São João Gospel e o Show de Irrelevância


Em um site de notícias gospel, lê-se, em tom de celebração, a aprovação do requerimento 114/2013, na Câmara de Caruaru, na sessão do dia 7 de fevereiro. O documento, de autoria do vereador Sivaldo Oliveira (PP), trata sobre a criação do Polo Gospel durante os festejos juninos da Capital do Agreste.
De acordo com a home page, “O Polo Gospel sera mais um Atrativo durante o Festejos Juninos em Caruaru sendo que voltado para o Publico Religioso, Durante o Mês de Junho Caruaru sempre foi carente de Eventos voltados Principalmente para o Publico Evangélico e agora com essa Vitoria na Câmera Municipal o Polo Gospel vem para suprir um Necessidade do Publico Evangélico durante o período junino”.
Antes de tudo, quero deixar claro que nada tenho contra o referido edil, tampouco desejo incitar ódio nos meus amados irmãos do segmento evangélico. Entretanto, quero fazer observações sobre o tema.
Inicialmente, é bom frisar que o fato de um requerimento ter sido aprovado na Câmara não significa que ele será, fatalmente, colocado em prática. O que a Casa aprovou foi que a solicitação chegue ao Poder Executivo, o qual analisará a viabilidade de implementação do mesmo. Portanto, tal tópico deverá render ainda maior debate.
Também quero afirmar que não é papel de vereador ficar organizando evento. Segundo trecho de definição do papel do vereador no site Brasil Escola, “eles devem trabalhar em função da melhoria da qualidade de vida da população, elaborando leis, recebendo o povo, atendendo às reivindicações, desempenhando a função de mediador entre os habitantes e o prefeito”.
Acredito que é necessário elaborar normas que viabilizem a implementação de políticas públicas transformadoras. Os políticos – principalmente os vereadores – não são eleitos para representar determinada classe social (seja determinada crença, bairro, profissão, orientação sexual), mas sim para garantir o bem estar da coletividade.
No entanto, para alcançar esse entendimento é necessária uma profunda mudança da consciência. Enquanto isso, vão chover nas sessões ‘ordinárias’ da Câmara enxurradas de requerimentos irrelevantes. E não são apenas como esse do vereador supracitado, tampouco o grotesco pedido de criação do Parque Municipal Gospel (conforme solicitado pelo edil Demóstenes Veras, na última legislatura). Isso vale também para os incontáveis requerimentos de calçamentos de ruas, mudanças de nomes de vias, ou coisas desse tipo. Nesses últimos casos, porque tais solicitações não são acompanhadas de um olhar mais abrangente para a infraestrutura da cidade, mas servem apenas como uma forma de fazer uma média com tais comunidades. Vou tentar ser mais claro. Ao invés de ficar fazendo requerimento para calçar rua A ou B, deveria-se estudar mecanismos de urbanização da cidade como um todo, de maneira planejada e estratégica.
Semelhantemente, ao invés de propor um polo gospel no São João, poderia se propor uma mudança na perspectiva da festa. Em vez de os festejos juninos caruaruenses se limitarem a parte musical em si, poderia-se sugerir que oficinas, seminários, e outros instrumentos de formação cultural aconteçam paralelamente à festa, sobretudo no período diurno. Ora, é tão perceptível no mês de junho avistar, por exemplo, estudantes cabulando aulas para participarem das comemorações no Pátio de Eventos (até porque, às vezes, principalmente nas escolas mais próximas àquele lugar, torna-se uma odisseia conseguir dar aula). Em vez disso, porque não criar possibilidades de que a juventude tenha um acesso mais aprofundado à cultura popular? Isso estaria, evidentemente, atrelado a um projeto de fomento à cultura, que permeasse também outras áreas e outros períodos, no intuito de promover uma nova postura da sociedade diante da vida, enfocando a identidade cultural – o que resulta em uma consciência cidadã.
E eu acredito que esse tipo de cosmovisão deva partir dos políticos com formação cristã, principalmente evangelical. Além disso, outras pautas, como a questão da exploração infantil e sexual, os problemas ambientais, a opressão contra as classes menos favorecidas, devem ser o alvo dos que estão representando o povo, principalmente aqueles que têm como objetivo de vida manifestar o Reino de D-us entre os homens.
Os olhos do cristão vocacionado para a política devem estar voltados para o contexto geral e não para satisfazer micro-interesses da igreja. Vale lembrar que o Memorial Evangélico de 1932 propõe, entre outros itens, “completa laicidade do Estado e [...] do ensino oficial”; “justiça popular, rápida e gratuita”; “absoluta liberdade de pensamento e da manifestação do pensamento”.
Desta feita, ressalto a observação do sociólogo Paul Freston, quando afirma que “como cristãos, somos chamados a ver a realidade brasileira, à medida do possível, na perspectiva de Deus, a pensar ‘o que precisa se mudado para que o Brasil se pareça mais com o plano de Deus para toda a humanidade’”. Uma nova cultura deve ser implementada. Ela começa aqui e agora e termina na cidade que desce do Céu, onde “não haverá luto, nem pranto, nem dor”.

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