Deixa eu plantar primavera
No jardim do coração?
Pra ter uma nova era
Dentro da tua emoção.
Deixa eu ser o sol nascente
No teu escuro horizonte?
Ou uma estrela cadente
Rasgando o cume do monte?
Deixa eu te fazer sonhar
No meu colo ou nos meus braços?
Ou te fazer desmaiar
No êxtase dos meus abraços?
Deixa eu te fazer carinho
Seja de dia ou de noite,
E fazer da cama ninho
Pra passarmos o pernoite?
Deixa eu te cantar meu canto
Só pra tentar te encantar?
Deixa eu ser teu, que garanto
Que nunca vou te deixar...
Dois felinos residiam Em uma mesma mansão, Mas um percorria os quartos; Outro, somente o porão. Eram iguaizinhos no pelo, Contudo, na sorte, não. Um tinha mimo e ração; O outro, lixo e perigo. Um vivia igual um príncipe; O outro, feito um mendigo (Que sem cometer delito Sofre só o seu castigo). No telhado do abrigo Certa vez se encontraram. Ante a tela do contraste, Os dois bichanos pararam E a Lua foi testemunha Do diálogo que travaram. Quando eles se olharam, Disse o rico, em tom amargo: “Tu és mísero vagabundo, Eu sou do mais alto cargo! Sou nobre, sou mais que tu! Portanto, passa de largo!” O pobre disse: “O teu cargo Foi a sorte quem te deu! Nasceste em berço de luxo, Cresceste no apogeu! Mias, caças, comes ratos… Em que és mais do que eu? Logo, este orgulho teu Não há razão pra ser forte… Vieste nu para a vida, Nu voltarás para a morte! Não chames, pois, de nobreza O que é apenas sorte”. Quem não se impor