Uma das mais respeitadas lideranças evangélicas em todo o país. O pastor Hernandes Dias Lopes, que também é escritor – com cerca de 100 títulos publicados – conversou com exclusividade com a nossa equipe sobre os rumos da Igreja Evangélica no Brasil e analisou aspectos da política do país. Lopes esteve em Caruaru na manhã do dia 13, ministrando na Igreja Evangélica Vale da Bênção Central.
A vinda do pastor ao município foi articulada com a equipe da Livraria Luz e Vida – a qual está montando uma filial em Caruaru, que funcionará no North Shopping – e a Editora Hagnos, responsável pela publicação da maior parte dos livros do pastor. Eis a entrevista:
PRESENTIA – Pastor, em seu mais recente livro, intitulado ‘Para onde caminha a Igreja’, o senhor fala que a Igreja Evangélica Brasileira está em crise. Quais são os aspectos dessa crise?
HERNANDES DIAS LOPES – A crise da chamada Igreja Evangélica Brasileira, em meu entendimento, passa por alguns aspectos. Primeiro, há um segmento da Igreja bandeando para o lado do liberalismo teológico. O liberalismo teológico é um desastre, pois, por onde ele passa, mata a Igreja. Muitas igrejas na Europa morreram. Outras, na América do Norte – Estados Unidos e Canadá – estão morrendo, pois se capitularam ao liberalismo.
Há denominações inteiras no Brasil flertando com o liberalismo e até se capitulando a ele. Essas denominações já estão retrocedendo em números, porque aqueles que negam a infalibilidade, a inerrância e a suficiência das Escrituras não têm o que pregar. Segundo, há um grande segmento de igrejas crescendo numericamente, mas sem qualidade, pois abraçaram o sincretismo religioso, substituíram o Evangelho por outro evangelho. Um evangelho popular, mas sem integridade doutrinária e sem ética. Desta forma, essas igrejas entraram para o campo do pragmatismo. Elas não estão preocupadas com o que é verdade, mas com o que funciona.
Não estão procurando saber se isso é certo, a pergunta é se isso dá certo. Nós não podemos, com o propósito de atrair pessoas, mudar a mensagem. Não podemos pregar o que o povo quer ouvir, precisamos pregar o que o povo precisa ouvir. Não precisamos mudar a mensagem para nos tornar atraentes, nós temos de ser íntegros e fiéis. Há, ainda, um outro segmento da Igreja que, embora conserve a ortodoxia, caiu no que chamaríamos em uma ortodoxia morta, ossificada, sem vida. Então, prega a Verdade, mas falta unção, falta poder, falta piedade, falta plenitude do Espírito Santo de Deus.
O entendimento que nós temos é que a Igreja precisa caminhar, sem abrir mão da teologia, sem abrir mão da ética, mantendo o dogma e preservando a conduta. Se nós separarmos o que Deus uniu – a ortodoxia e a piedade – nós caminharemos rumo ao desastre. Então, a minha proposta, neste livro, é conclamar a Igreja a uma volta às Escrituras e à piedade. Se nós entendermos isto, que se nós juntarmos o que Deus uniu – teologia e ética, doutrina e vida, dogma e conduta – nós estaremos no caminho que Deus traçou, que é o caminho da vida, o caminho do crescimento saudável.
PRESENTIA – Esse segundo grupo que o senhor falou – o qual tem crescimento, mas não tem ética – é o que termina, muitas vezes, desembocando mais na política. Quais os impactos deste fator para a sociedade?
HERNANDES DIAS LOPES – Olha, é muito triste quando você vê hoje que a bancada talvez mais desacreditada do Congresso seja a chamada ‘bancada evangélica’. Na verdade, para que um indivíduo entre na política, ele precisa ter três características: vocação política, preparo intelectual e ética. Aqueles que se lançam candidatos sem vocação, sem preparo e sem ética, mesmo sendo chamados evangélicos, vão ser massa de manobra nas mãos dos espertalhões ou vão entrar no esquema de corrupção.
Isso é um desastre, porque o pecado de um crente é pior do que o pecado de um incrédulo. Porque o crente é chamado para ser exemplo e não pedra de tropeço. Então, eu creio que a vocação política é legítima, e a Igreja deveria estar atenta a esse ponto, preparando jovens para a vida civil, para a carreira política, exercer funções estratégicas na política.
Eu não creio que pastor deva entrar na vida política. Eu acho que quando um pastor entra na vida política para ser vereador, deputado, senador, ou governador, ele está deixando uma sacrossanta vocação para abraçar outra vocação. Charles Spurgeon dizia para os seus alunos: “Meus filhos, se a Rainha da Inglaterra vos convidar para serdes ministros ou embaixadores em qualquer lugar do mundo, não rebaixeis de posto. Vós sois embaixadores do Rei dos Reis, do Senhor dos Senhores”. Eu creio que quando um pastor se encanta com a política é porque ele se desencantou com o ministério. E quem se encanta com o ministério não tem nada mais sublime para se encantar, a não ser com o Evangelho de Jesus Cristo.
PRESENTIA – Com a sanção da presidenta Dilma da lei que outorga benefícios para as vítimas de abuso sexual, parlamentares evangélicos reagiram e buscam formas de revogar a norma. Em prol da vida do feto, os evangélicos terminam desvalorizando a vida da mulher?
HERNANDES DIAS LOPES – Não. A Bíblia, a Palavra de Deus, é pró vida, não pró morte. Aqueles que defendem o aborto tiveram o direito de nascer. O aborto é crime, se não aos olhos dos homens, o é aos olhos de Deus, porque aborto é assassinato. O feto não é uma coisa, o feto é uma pessoa. O Salmo 139 diz que Deus nos conheceu quando nós éramos ainda uma substância informe. Então, ali é uma vida, é uma pessoa, uma personalidade.
O aborto é assassinato com requintes de crueldade. É matar um ser indefeso, no lugar que deveria ser o seu reduto de segurança máximo, que é o ventre materno. Eu creio o seguinte, que a ética cristã tem preceitos e princípios para tratar dessa matéria quando a vida da mãe está em risco, de fato e de verdade. Mas, o que está acontecendo não é isso. A legislação não é para a exceção, a legislação é para a regra. O que se fez nessa aprovação dessa lei é um subterfúgio para se aprovar o aborto no Brasil. Nós precisamos estar atentos a isso e dizer ‘não’ a essa cultura da morte, e dizer ‘sim’ à cultura da vida.
PRESENTIA – E com relação ao casamento homossexual? Os críticos aos evangélicos dizem que existe uma fixação quanto a esse tema, que existe preconceito, e uma exarcebação deste assunto em detrimento de outros tópicos, como a justiça social, luta contra o trabalho escravo e outras questões. Como o senhor enxerga esse cenário?
HERNANDES DIAS LOPES – Eu creio que quem dá essa superênfase a essa agenda não são os evangélicos, mas os ativistas gays. Não os evangélicos. Os evangélicos têm um postulado absoluto. Nós cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus. Por cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, cremos que a Palavra de Deus regulamenta as culturas, e não que as culturas regulamentam a Palavra de Deus. Então, mesmo que no futuro a união homoafetiva seja aprovada e se torne lei no País, nós continuaremos dizendo que está errado, porque para nós a Bíblia está acima de qualquer Constituição humana.
Para nós, quando uma autoridade humana cria normas, leis, que estão na contramão da Palavra de Deus, o que a Bíblia nos ensina é que nós devemos obedecer antes a Deus do que aos homens. Nós somos contrários à união homoafetiva não por sermos homofóbicos. A Igreja Evangélica não é homofóbica. O homossexual tem acolhida na Igreja, mas não a sua prática. Se você ler a Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 6, nos versículos de 9 a 11, muitos dos crentes da Igreja de Corinto eram homossexuais, mas ao se converterem a Cristo abandonaram a prática, se tornaram pessoas santas, se casaram, constituíram famílias.
Então, a Igreja Evangélica é contra o pecado do homossexualismo. E Paulo diz, lá em Romanos 1, que é um erro, uma paixão infame, algo contrário à natureza, e que é o fundo do poço da decadência moral de uma sociedade. Nós preferimos ficar com a Palavra de Deus do que com o discurso dos ativistas gays.
PRESENTIA – Às vezes, parece que os evangélicos têm uma ênfase em ter representantes de igrejas no poder público. Como o senhor avalia essa situação?
HERNANDES DIAS LOPES – Eu sou contra essa ideia de que você elege um deputado evangélico, um vereador evangélico, para defender a causa evangélica. Isso gera um gueto, um segmento da sociedade. Quando um político é eleito, ele deve representar o país, as causas da justiça, da verdade, da honra, do progresso.
Jénerson Alves e Hernandes Lopes |
Essa ideia de ter um político para defender apenas os interesses daquele segmento gera um país esquizofrenizado, dividido, cheio de fissuras.
É claro que os políticos evangélicos precisam estar atentos aos valores do Cristianismo, mas nós não podemos querer que eles sejam corporativistas. Isso é um péssimo testemunho.
Eu acho que ele está ali para representar a nação, o povo, está ali para representar princípios e valores. Quando ele apenas cuida de interesses de um segmento da sociedade, isso foge ao princípio da vocação política.