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Ate(r)na



Com lança nas mãos e escudo no peito,
Enfrenta entreveros, destravando entraves.
Com olhar de garça e graça solene,
Traz em sua ação sutilezas graves.
É filha da astúcia e da alta potência,
Terna aurora, Atena, de gládios suaves.

Conserva no corpo sua virgindade,
Pois não admite humanas fraquezas,
Nariz longo e fino, fronte magistral,
Cabelos jogados, com certas rudezas,
Capacete aurífero, com corcéis alados,
E feição de sábia (a maior das belezas).

Esta personagem é mais que um mito,
É persona-imagem que jamais hiberna;
Disputa com o mar, depois faz as pazes;
Não se une a Marte, refuta baderna;
É mãe sem marido, guerreira imbatível,
Espelho inconteste da mulher moderna.

Guerreira com garra que se agarra aos sonhos,
Com os pés no chão, com saber profundo,
Que faz brotar flores em pântanos sombrios,
Dissipando trevas a cada segundo,
No vigor da vida, vencendo investidas
De Hefestos nefastos que infestam o mundo.


Num cenário onde o sexo é banal,
De orgasmo ofertado na web em leilões,
De bailes promíscuos, de mulheres-frutas,
Trajes sensuais, loucas perversões...
Vem, Atena, e luta, com honra e com tática,
Destruindo monstros, rompendo grilhões!

Jénerson Alves, 18.03.2014

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