por Jénerson Alves
Texto publicado na Coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco - ed. 625
Ao lado de outros poetas de Caruaru, entrei no
apartamento onde o professor Reginaldo Melo está internado há três
semanas, em um hospital particular. Ele nos recebeu com alegria,
apesar da fragilidade física. Com a voz bem cansada, quase
inaudível, um dos primeiros assuntos que ele pediu foi: “Ajudem-me
a publicar o cordel sobre o Rio Ipojuca, que já está pronto, só
falta ser levado à gráfica”. Coincidentemente, ele estava com uma
camisa de um Encontro sobre a questão hídrica que participou em
Goiás.
Prof. Reginaldo (centro), ao lado de Espingarda do Cordel (e) e Jénerson Alves (d) |
Durante o encontro no quarto do hospital, ocorrido
na última semana, quando Olegário Filho, Nelson Lima, Val Tabosa,
Dorge Tabosa, Nerisvaldo Alves e eu o visitamos, comprometemo-nos em
procurar os meios para imprimir o cordel sobre o Rio Ipojuca, sim.
Além disso, vamos realizar – em nome da Academia Caruaruense de
Literatura de Cordel – um recital apenas com poemas do mestre
Reginaldo.
O meio ambiente, a cultura e a sociedade estão
entre os temas sobre os quais Reginaldo Melo mais se debruçou ao
longo da vida. Por meio dos versos dos seus cordéis, muitas pessoas
tiveram a consciência despertada para a coletividade. Ele fez da
poesia um ofício quase sacerdotal, “por saber da importância / de
ser um educador” (afirmou em uma estrofe).
Entre outros trabalhos de Reginaldo Melo que se
encontram na “gaveta”, existe um cordel contando a história do
Poder Legislativo. O texto foi escrito sob encomenda da Câmara de
Caruaru, com ilustrações do jovem xilogravurista Espingarda do
Cordel, que desponta como uma referência da nova geração nessa
arte. Tudo está pronto desde o ano passado. A ideia é que o folheto
seja impresso e distribuído nas escolas do município. Não tive
acesso ao conteúdo, mas por conhecer o autor sei que o cordel
consiste em uma verdadeira aula de cidadania, provocando a reflexão
e conscientizando os jovens acerca da importância do protagonismo na
política. Talvez por isso não seja interesse da atual legislatura
viabilizar a impressão e distribuição desse folheto…
No meio dos poetas populares, o professor
Reginaldo Melo tem a marca de não se curvar diante de dificuldades,
mantendo-se fiel aos seus princípios. Atualmente, ele luta contra o
carcinoma escamoso (uma doença cancerígena) e complicações no
fígado. Sabemos que ele não vai se curvar diante das enfermidades.
Recentemente, foi lançada na internet uma campanha para que ele
comprasse um remédio nos Estados Unidos no valor de US$ 2.400.
Todavia, sei que existe uma Lei Federal que dispõe acerca da
obrigação do SUS em atender pacientes com câncer. Quero aqui
provocar as autoridades e órgãos competentes para que a obra e a
vida do professor Reginaldo Melo permaneçam servindo de inspiração
para as novas gerações, a fim de que o sentimento de coletividade
não se perca, fazendo raiar uma nova aurora. Para concluir, deixo
uma estrofe em martelo agalopado, escrita por ele: “Só
teremos o estado de direito / Se lutarmos pela democracia / Praticar
e defender cidadania / Não nos resta pensar de outro jeito / Se o
ato de votar não for perfeito / E o voto for uma mercadoria / Se
deixarmos levar por fantasias / Nosso drama jamais terá conserto
Quando o nosso eleitor votar direito / Vamos ver o nascer de um novo
dia”.