por
Fabrício Cunha dos Santos
De
tantas coisas importantes que aprendi no tempo de convivência com o
teólogo e filósofo Ed René Kivitz, um mestre por natureza, a
principal de todas elas está numa folha, uma lauda só, só frente,
datilografada há muitos anos e xerocada por mim...
Ele
ainda era estudante universitário quando, numa reunião entre poucos
amigos onde moravam, perto da faculdade, colocaram em pauta a
seguinte questão: “qual seria a filosofia de uma igreja
relevante”. Com a ajuda do grande filósofo Ariovaldo Ramos,
escreveram ali uma lauda com uma filosofia do que seria uma boa
proposta de comunidade cristã. Era seu mínimo denominador comum.
Ed
René tornou-se pastor de uma grande igreja em São Paulo. Ao longo
de seu ministério pastoral, procurou, conheceu, testou várias
metodologias de igreja para, 20 anos depois, concluir que era aquela
folha rabiscada de forma tão sincera e singela, há tantos anos, o
resumo mais coerente de tudo o que procurara e vivenciara enquanto
sistemas aplicáveis a uma comunidade. Aquela folha datilografada era
a síntese de um sonho. Era tão sincera e leve, quanto densa e
expressiva. Permitia que navegassem com liberdade por vários mares,
sem perder a direção, aquele núcleo central que os manteria na
rota, independente das possíveis intempéries.
Dia
desses, revi minha caminhada existencial. Reavaliei a minha fé, solo
sobre o qual pisei nos últimos muitos anos de minha vida. Repensei
sobre minha vida, a vida ao entorno de mim, sobre as amizades, as
decisões, as trajetórias possíveis, olhei, pensei, sorri, chorei,
silenciei ao encontrar-me com meu passado, o mais longínquo e o mais
recente.
Todos
nós precisamos de uma lauda que seja, que nos mantenha vivos e
caminhando n’alguma direção. Não que não possamos mudar os
planos daquilo que escrevemos em algum momento da vida, mas algumas
coisas devem ser tão sólidas, algumas poucas, que nos permitam
transitar por terremos mais estranhos, ir e vir no diferente e mudar
a direção quando necessário, tendo, na solidez desse mínimo,
alguma segurança.
Meu
mínimo denominador comum permanece o mesmo:
Tenho um mestre
maior chamado Jesus de Nazaré e com Ele aprendi que:
o Toda e
cada pessoa tem potencial para ser humana. Cada vez mais humana;
o
Nossas relações devem se estabelecer sobre três alicerces, a
reciprocidade, a alteridade e a incondicionalidade. Os
relacionamentos afetivos e fraternais devem ser recíprocos. Nossa
relação com a humanidade de ser de alteridade. E nossa paternidade
e maternidade devem ser incondicionais em relação aos seres que
gerarmos;
o A sociedade pode subverter a ordem na qual está
estabelecida, trocando a competitividade pela solidariedade, o poder
do dinheiro pela força do amor, a tendência ao acúmulo pela
partilha e o juízo e a maldade pela graça e misericórdia.
Tento
me alimentar desses três parágrafos, meu mínimo denominador comum,
e seguir adiante. Tudo o mais é supérfluo.
Mas como é
difícil.