por Jénerson Alves
(Texto publicado na coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco)
Ao contrário do que supostamente profetizava Antônio Conselheiro, o sertão não vai virar mar, tendo em vista que já o é. Isso porque nasceu no Alto Sertão do Pajeú, mais precisamente no município de Tuparetama-PE, uma escritora que, até mesmo pelo nome, é um verdadeiro mar de versos. Estou me referindo a Mariana Teles, poetisa, declamadora e concluinte do curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco. Recentemente, ela lançou o livro 'Um Novo Mar de Poesias'. A obra, de produção independente, reúne cerca de seis dezenas de poemas em 201 páginas.
Filha do exímio cantador Valdir Teles e da professora Maria Elza, a garota – de 20 anos de idade – mescla em sua poética a resistência sertaneja com a sensibilidade feminina. No livro, percebe-se a interação entre universos distintos. A começar pela capa, cujo título destaca a palavra 'mar', seguido por uma ilustração que remete à grande porção de águas, mas também apresenta um cacto, símbolo da seca e das grandes porções de terras nordestinas. No interior do livro, há sonetos, motes, décimas, sextilhas, trovas e comentários sobre os mais diversos temas. Tanto o lirismo quanto a crítica social estão presentes na obra, passando pela fé e pela exaltação à terra. É possível encontrar nessas páginas resquícios da guria sertaneja que cresceu ouvindo cantoria e escrevendo versos, mas também da mulher que se forma em Direito e amplifica sua visão de mundo. É possível captar a essência de uma verdadeira amante das palavras, estejam elas na métrica das poesias ou nos artigos das leis.
Na realidade, o que se vê nos versos de Mariana é o espírito do ser humano, que se manifesta em suas mais variadas formas. São resultados de momentos de sensibilidade, instantes-já, captados com a essência semelhante aos improvisos do pai. Entre os trabalhos, pode-se citar o mote 'Do Batente de Pau do casarão', de Dedé Monteiro, glosado por ela com maestria e maturidade, que podem ser percebidos em estrofes como “No alpendre da casa que eu morava / tinha o gosto do doce da poesia. / Fora o terço, a novena, a cantoria, / outra festa por lá ninguém falava. / Quando o véu do poente desbotava, / que o sol apagava o seu clarão, / minha mãe acendia um lampião / e, pra provar que nasci ouvindo rima, / pai cantava um cordel sentado em cima / do batente de pau do casarão”.
No livro, ainda é possível enxergar novos olhares sobre a realidade social, por meio de motes como 'Sem primeiro cobrar EDUCAÇÃO, ninguém vai reduzir 'maioridade'', o qual ela apresentou em 2013, representando do movimento estudantil durante um ato contra a redução da maioridade penal, na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Na glosa, ela questiona: “Será justo cobrar de um infrator / que não teve direito a ter direito? / e é somente reflexo do efeito / de um sistema covarde e opressor [...]”. O Hino Nacional, o centenário de Luiz Gonzaga, a viuvez, a família, o amor e a infância são outros temas abordados nos versos da jovem poetisa. É impossível, neste artigo, ressaltar por completo a grandiosidade da obra de Mariana, até porque a literatura é carregada de plurissignificação. Portanto, meu desejo é apenas impelir o leitor a procurar beber das doces águas do mar de Mariana, cujo leito é o sertão, mas – como ela mesma afirma – trata-se de “um mar em busca do mundo”.
(Texto publicado na coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco)
Ao contrário do que supostamente profetizava Antônio Conselheiro, o sertão não vai virar mar, tendo em vista que já o é. Isso porque nasceu no Alto Sertão do Pajeú, mais precisamente no município de Tuparetama-PE, uma escritora que, até mesmo pelo nome, é um verdadeiro mar de versos. Estou me referindo a Mariana Teles, poetisa, declamadora e concluinte do curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco. Recentemente, ela lançou o livro 'Um Novo Mar de Poesias'. A obra, de produção independente, reúne cerca de seis dezenas de poemas em 201 páginas.
Filha do exímio cantador Valdir Teles e da professora Maria Elza, a garota – de 20 anos de idade – mescla em sua poética a resistência sertaneja com a sensibilidade feminina. No livro, percebe-se a interação entre universos distintos. A começar pela capa, cujo título destaca a palavra 'mar', seguido por uma ilustração que remete à grande porção de águas, mas também apresenta um cacto, símbolo da seca e das grandes porções de terras nordestinas. No interior do livro, há sonetos, motes, décimas, sextilhas, trovas e comentários sobre os mais diversos temas. Tanto o lirismo quanto a crítica social estão presentes na obra, passando pela fé e pela exaltação à terra. É possível encontrar nessas páginas resquícios da guria sertaneja que cresceu ouvindo cantoria e escrevendo versos, mas também da mulher que se forma em Direito e amplifica sua visão de mundo. É possível captar a essência de uma verdadeira amante das palavras, estejam elas na métrica das poesias ou nos artigos das leis.
Na realidade, o que se vê nos versos de Mariana é o espírito do ser humano, que se manifesta em suas mais variadas formas. São resultados de momentos de sensibilidade, instantes-já, captados com a essência semelhante aos improvisos do pai. Entre os trabalhos, pode-se citar o mote 'Do Batente de Pau do casarão', de Dedé Monteiro, glosado por ela com maestria e maturidade, que podem ser percebidos em estrofes como “No alpendre da casa que eu morava / tinha o gosto do doce da poesia. / Fora o terço, a novena, a cantoria, / outra festa por lá ninguém falava. / Quando o véu do poente desbotava, / que o sol apagava o seu clarão, / minha mãe acendia um lampião / e, pra provar que nasci ouvindo rima, / pai cantava um cordel sentado em cima / do batente de pau do casarão”.
No livro, ainda é possível enxergar novos olhares sobre a realidade social, por meio de motes como 'Sem primeiro cobrar EDUCAÇÃO, ninguém vai reduzir 'maioridade'', o qual ela apresentou em 2013, representando do movimento estudantil durante um ato contra a redução da maioridade penal, na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Na glosa, ela questiona: “Será justo cobrar de um infrator / que não teve direito a ter direito? / e é somente reflexo do efeito / de um sistema covarde e opressor [...]”. O Hino Nacional, o centenário de Luiz Gonzaga, a viuvez, a família, o amor e a infância são outros temas abordados nos versos da jovem poetisa. É impossível, neste artigo, ressaltar por completo a grandiosidade da obra de Mariana, até porque a literatura é carregada de plurissignificação. Portanto, meu desejo é apenas impelir o leitor a procurar beber das doces águas do mar de Mariana, cujo leito é o sertão, mas – como ela mesma afirma – trata-se de “um mar em busca do mundo”.