O vendedor anunciava efusivamente na rua movimentada:
- Promoção! Aproveite!
Se há uma palavra que me serve de ímã, é ‘promoção’ – e as correlatas, como ‘desconto’, ‘queima’… Quem não se sente atraído por um bom negócio?
Com este sentimento, dirigi-me até o vendedor. Ele apontava para uma pequena loja, que parecia meio escondida em meio ao turbilhão de magazines na via. Era uma loja que vendia roupas. As etiquetas traziam nomes de marcas famosas. Porém, um olhar um pouquinho cuidadoso perceberia os contrastes. A textura, o acabamento e, em alguns casos, até o modelo das peças em nada pareciam com as peças originais. Saí silenciosamente do local. Há promoções que custam caro.
Deixei a loja levando comigo este pensamento. Nada como o original, ou seja, o “das origens”, o verdadeiro! Num relance, recordei-me de um texto que havia lido há alguns anos. Nele, o professor Víctor Armenteros alertava para as ilusões que parecem amor. Segundo ele, o egoísmo, o flerte e o sexo, por vezes, parecem amor. Contudo, empatia, sinceridade e cumplicidade são características inalienáveis do verdadeiro amor. Não há promoção de amor. Ele só possui significado carregado de abraços sinceros, lágrimas partilhadas e sorrisos despretensiosos, em meio aos altos e baixos da vida.
Jénerson Alves