Mais cedo ou mais tarde, todos haveremos de receber uma estranha visita nos umbrais.
É a mesma visita que o eu-lírico de ‘O Corvo’ recebeu naquela fatídica meia-noite agreste. E repetia incessantemente o som ‘Nunca mais’...
A mesma senhora “tan blanca” da cantiga medieval “El enamorado y la muerte”. E, perante o rosto pálido da amada, ouve o som de quem está a buscá-lo...
Sim, aquela representada com capuz e foice. Sempre misteriosa.
Ela chama, e todos haveremos de atendê-la.
A diferença é como atendê-la-emos.
Uns recebem-na como Ivan Ilitch, desconfiados que não viveram a vida que deveria ser vivida.
Eu gostaria de recebê-la sorrindo, ciente de que, ao fechar os olhos nesta terra, abri-los-ei diante do Eterno.
Para tanto, ouço como em um sussurro as palavras de S. Tomás de Kempis: “Melhor fora evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?”
Texto: Jénerson Alves
Imagem: Morte do Avarento, de Hieronymus Bosch