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Talvez por causa do frio, hoje me deu vontade de ler Adélia Prado. A mineira de versos encantadores tem o poder de apresentar um certo ‘deslumbramento original’ no cotidiano. Ao descrever cenas do interior de Minas Gerais, ela mais parece descrever as cenas do interior do meu coração.
Aliás, não somente do meu. Do nosso. Da humanidade. Acho que foi tomado por esse sentimento que Drummond registrou sua célebre afirmativa: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis”.
Ela mescla prosaísmo e cristianismo. O banal e o espiritual. A vida comum se torna extraordinária em cada verso. Sua fé traz os pés no chão e o coração no céu…
Só sei que me deu vontade de ler Adélia Prado! Talvez por causa do frio, talvez por causa do mês… estamos em maio. Mês das mães, das flores, da família… Assim como Adélia, não tenho vocativos para chamá-lo.
Só sei que Adélia fala de maio. Fala de mãe. Fala de Deus. Fala de Deus. E que me deu vontade de lê-la. Então, lerei em voz alta:
“JUSTIÇA
Nos tinha à roda
ao
peito
aos cachorros
diferente da moradora de posses
que
ia à missa de carro
e a quem os meninos
não puxavam a
saia.
Mas muito mais bonita
era nossa mãe.”
Jénerson Alves