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Jefferson Moisés: “Sou apenas um brincante e misturador das palavras”

 



Poeta declamador e cordelista consagrado, Jefferson Moisés é um dos mais autênticos defensores da cultura nordestina. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância da Literatura de Cordel e os rumos desta arte na região. Confira:



Conte-nos como começou seu envolvimento com a Literatura de Cordel...
Jénerson, o primeiro contato com a poesia foi ainda na infância, mas eu não imaginava que se tratava de literatura de cordel, acreditava sim, que fosse apenas uma poesia contada por algum poeta, que foi justamente quando meu pai comprou uma fita cassete do poeta e cantor Amazan declamando essas poesias engraçadas, então acabei memorizando rapidamente e assim declamava para os amigos, eu me sentia bem fazendo aquilo mas, foi no ano de 2017 através do poeta Nelson Lima que eu tive esse interesse para ter o conhecimento do que era literatura de cordel e vi que era algo bem mais do que imaginava, uma literatura com regra, praticamente com matemática devido
à sua metrificação, suas rimas, todo esse conjunto de regras. Então, foi justamente nesse ano que eu acabei mergulhando mais a fundo nessa Literatura e a cada dia estou pesquisando, procurando mais informações, aprendendo com grandes poetas, com os repentistas, pessoas ligadas a literatura de cordel e já são 5 anos declamando, escrevendo as minhas poesias e continuo me sentindo bem fazendo isso.



Na sua opinião, ser poeta é um dom ou uma habilidade adquirida com estudo?
Quando se olha as trajetórias dos poetas Patativa do Assaré e Leonardo Bastião como exemplo, você observa poesias magníficas de poetas que não tiveram estudos, que não frequentaram escolas ou se frequentaram foram por pouco tempo em sua infância, então esse é um grande exemplo de Dom, eles receberam o dom de poeta, mas sim pode se adquirir essa verve poética com estudos, com pesquisas, com leitura, que é o que estou fazendo. Na realidade, nem me considero poeta; sou apenas um brincante e misturador das palavras.


Você também é ator. O conhecimento no teatro favorece sua performance poética?
Apesar de estar sentindo falta de atuar no teatro apresentando alguma peça, esquete, sim ajuda bastante na performance poética pois o teatro deixa você mais "sem vergonha", assim posso dizer, e sabemos que muitas pessoas têm dificuldade de falar em público, lidar com a plateia, na verdade nunca tive essa dificuldade, sempre fui muito amostrado, no sentido bom da palavra, era o palhaço da turma, enfim.
Mas tem me ajudado sim a transmitir o sentimento que a escrita quer passar ao público.


A internet favoreceu a valorização do Cordel?
Falaram que o Cordel iria desaparecer com a chegada do rádio e o Cordel foi inserido no rádio, como falaram com a chegada da televisão e o Cordel foi parar nas novelas, filmes e minisséries e com a internet a mesma coisa. Lembro Jénerson, que fizemos uma peleja virtual, publicamos na rede social... Eita, até rimou...
Anunciamos o nosso CD versos diversos todo no formato de cordel também na internet, como também publicamos o nosso cordel em homenagem aos cem anos do time do Central de Caruaru, então a internet tem sim ajudado a valorizar nossa Literatura como tem facilitado na pesquisa de sua história e também dos poetas.


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