Sinto a morte bem perto de mim. Encarno o eu-lírico de Álvares de Azevedo ao afirmar: “Já da morte o palor me cobre o rosto”.
Não sei explicar bem, mas parece-me que, ao lado da morte, está a vida. É como se diante da morte, eu terei de dar conta das razões pelas quais vivi – ou, pelo que tentei viver. Se é que vivi…
Em meus ouvidos, ecoam vozes de uma assustadora cantiga medieval:
“Dime, pecador
si en gracia no estás
Cuando Dios te llama a su tribunal
Tu
seno de culpas allí se verá
Y aun las más ocultas, patentes
serán”
Sim. O que estava oculto se torna manifesto, mas, o que há de manifestar-se?
Serei eu um Judas, que trocou Jesus Cristo por dinheiro? Teria eu a coragem (ou covardia) de trair o Cordeiro com um beijo?
Serei eu um Dimas? Talvez minha vida seja um emaranhado de fugas e roubos… Mas, quem sabe cravado na cruz dos meus pecados possa, com o coração contrito e liberto, balbuciar: “Jesum Domine memento mei cum veneris in regnum tuum”.
Definitivamente, não sei para que vivo. Só sei que um dia morrerei. E, naquele dia, anelo encontrar o Bom, o Belo e o Justo. Seria isso o “estarás comigo no paraíso”?
Texto: Jénerson Alves
Imagem: O Juízo Final - John Martin