Por Ananda Cavalcante, em Mói de Tradição
Como identificar um texto de Jénerson Alves? O estilo dele é bem
característico, e apesar de inspirar-se em autores regionais populares,
Jénerson consegue atingir a sua origiinalidade e passear pelo vocabulário
regional em qualquer tema, essa é uma das particularidades dele, poetizar seu
regionalismo, trazendo o que há de mais nordestino de forma sutil e leve. Como
podemos ver nesse trecho do poema “Manual de instruções”.
“Se eu conseguisse
encontrar
Teu Manual de Instruções,
Tuas configurações
Iria modificar...
Iria conectar
Tua mão à minha mão[...]”
Teu Manual de Instruções,
Tuas configurações
Iria modificar...
Iria conectar
Tua mão à minha mão[...]”
O uso do pronome "teu", é uma das marcas afetivas que ele usa
de modo que não deixa o “nordestinês” tão explícito e ao mesmo tempo não
foge à raiz. Tem uma forma única de falar do ser humano e dos sentimentos. Em
suas escritas vê-se um amante da literatura regional realçando suas palavras de
acordo com o seu estilo. Nota-se também uma pessoa religiosa, pois há marcas
como “cristãos” e “Deus” exaltados em seus textos.
“Não quero fazer da
vida
Um futuro do pretérito,
Mas, ao partir, quero o mérito
De uma vida bem vivida.
Quando tremerem meus braços
E eu não puder dar abraços
Na musa dos sonhos meus,
Não quero ficar sem paz,
Mas quero olhar para trás
E dizer “graças a D-us”.
Um futuro do pretérito,
Mas, ao partir, quero o mérito
De uma vida bem vivida.
Quando tremerem meus braços
E eu não puder dar abraços
Na musa dos sonhos meus,
Não quero ficar sem paz,
Mas quero olhar para trás
E dizer “graças a D-us”.
Quanto às características estilísticas, podemos ver o próprio
regionalismo como uma escolha para a estrutura estilística, a linguagem oscila
entre rebuscada e popular fazendo com que os leitores passeiem por duas formas
de escrita no mesmo texto. Os traços linguísticos são bem notórios e o cuidado
com o social é estampado na maioria dos seus versos, bem como o conhecimento e
bom uso do conhecimento jornalístico adquirido.
“[...] Lá em São
Paulo quem for
Recorda o caso da Zara
Uma empresa escravocrata
Que a mídia não escancara
Pois onde sobra jabá
Falta vergonha na cara.
Recorda o caso da Zara
Uma empresa escravocrata
Que a mídia não escancara
Pois onde sobra jabá
Falta vergonha na cara.
No Maranhão se
depara
Gilson Freire de Santana,
(De Açailândia foi prefeito),
Criatura desumana,
Tinha quase vinte escravos
Na sua terra tirana.[...]”
Gilson Freire de Santana,
(De Açailândia foi prefeito),
Criatura desumana,
Tinha quase vinte escravos
Na sua terra tirana.[...]”
(Gramárica dos
Sonhos)
O uso de termos ou ditados populares faz com que seja quase que
obrigatório o uso da linguagem popular, este é um fator que compõe a
estilística de Jénerson Alves tornando a leitura prazerosa.
“O boato é conversa
de quem mente
ou quem tem uma mente sem ser sã,
dar ouvidos a ele é coisa vã
mas tem quem dê ouvidos totalmente.
Ao invés de fazer andar pra frente,
o boato só leva para trás.
Eu me lembro do que falam meus pais:
‘As palavras depois que são faladas,
mais parecem com flechas atiradas:
quando soltas, não há quem prenda mais’”
ou quem tem uma mente sem ser sã,
dar ouvidos a ele é coisa vã
mas tem quem dê ouvidos totalmente.
Ao invés de fazer andar pra frente,
o boato só leva para trás.
Eu me lembro do que falam meus pais:
‘As palavras depois que são faladas,
mais parecem com flechas atiradas:
quando soltas, não há quem prenda mais’”
(Política e Boatos)