Pular para o conteúdo principal

“Há ainda um mundo de autores negros e autoras negras que produzem e não têm visibilidade”, afirma Sílvia Jussara

Quando se fala em Literatura, a mestra em Letras Sílvia Jussara Barbosa dos Santos Domingos é uma das maiores referências em Caruaru e região. Doutoranda em Literatura e Interculturalidade, ela contribuiu e contribui na formação de novos docentes e apresenta uma visão ampla, que vai além dos livros e se espraia pela vida. Nesta entrevista, exclusiva ao nosso blog, Sílvia Jussara analisa o cenário da Literatura Negra no Brasil e aponta caminhos para mudanças.



O Brasil ainda precisa conhecer melhor a literatura produzida por negros brasileiros?

Sim. Definitivamente sim. Há ainda um mundo de autores negros e autoras negras que produzem e não têm visibilidade. Há muitas obras, escritas pelo negro e negra brasileiros que estão à espera de serem lidos, discutidos e apreciados por diversos leitores.


Na sua visão, as licenciaturas de Língua Portuguesa e Literatura têm apresentado uma visão mais ampla sobre a literatura negra aos futuros professores de línguas?

De modo geral, sim. Contudo, ainda é pouco devido ao tempo que essas produções ficaram esquecidas e silenciadas, como também, ainda é pouco diante da diversidade de obras e autores que temos.


Pode-se afirmar que há um certo “preconceito” no cânone literário estudado atualmente?

O cânone ainda é, ideologicamente, eurocêntrico e estadunidense. Contudo, o leitor, na sua emancipação, é capaz de romper com o cânone para escolher esta ou aquela obra. É, também, papel do professor apresentar ao estudante obras e autores extraordinários que estão fora do cânone.

De que forma a literatura pode contribuir para acabar com o preconceito e o racismo?

Sartre diz que a literatura nos chama à liberdade, Deleuze diz que ela é o devir de tudo, Rancière diz que é a potência da vida. Então, na verdade, a literatura pode tudo porque é a própria vida.

Postagens mais visitadas deste blog

Professor Reginaldo Melo

por Jénerson Alves Texto publicado na Coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco - ed. 625 Ao lado de outros poetas de Caruaru, entrei no apartamento onde o professor Reginaldo Melo está internado há três semanas, em um hospital particular. Ele nos recebeu com alegria, apesar da fragilidade física. Com a voz bem cansada, quase inaudível, um dos primeiros assuntos que ele pediu foi: “Ajudem-me a publicar o cordel sobre o Rio Ipojuca, que já está pronto, só falta ser levado à gráfica”. Coincidentemente, ele estava com uma camisa de um Encontro sobre a questão hídrica que participou em Goiás. Prof. Reginaldo (centro), ao lado de Espingarda do Cordel (e) e Jénerson Alves (d) Durante o encontro no quarto do hospital, ocorrido na última semana, quando Olegário Filho, Nelson Lima, Val Tabosa, Dorge Tabosa, Nerisvaldo Alves e eu o visitamos, comprometemo-nos em procurar os meios para imprimir o cordel sobre o Rio Ipojuca, sim. Além disso, vamos realizar – em n

Apeirokalia

Do grego, a palavra ‘apeirokalia’ significa “falta de experiência das coisas mais belas”. A partir deste conceito, compreende-se que o sujeito que não tem acesso a experiências interiores que despertem o desejo pelo Belo, pelo Bem e pelo Verdadeiro durante a sua formação, jamais alcançará o horizonte de consciência dos sábios. A privação às coisas mais belas predomina em nosso país. Desconhecemos biografias de nossos ancestrais – ou, quando conhecemos, são enfatizados aspectos pouco louváveis de suas personalidades. As imagens identitárias do nosso povo são colocadas a baixo. Esculturas, construções, edificações, pinturas são pouco apresentadas. Até a nossa língua tem sido violada com o distanciamento do vernáculo e do seu significado.   A música real tem perdido espaço para séries de ritmos abomináveis. Este problema perpassa por uma distorção da cosmovisão sobre o próprio ser humano. Hedonista, egocêntrico e materialista, o homem moderno busca simplesmente o seu bem-estar.

O gato vaidoso - poema de Jénerson Alves

Dois felinos residiam Em uma mesma mansão, Mas um percorria os quartos; Outro, somente o porão. Eram iguaizinhos no pelo, Contudo, na sorte, não. Um tinha mimo e ração; O outro, lixo e perigo. Um vivia igual um príncipe; O outro, feito um mendigo (Que sem cometer delito Sofre só o seu castigo). No telhado do abrigo Certa vez se encontraram. Ante a tela do contraste, Os dois bichanos pararam E a Lua foi testemunha Do diálogo que travaram. Quando eles se olharam, Disse o rico, em tom amargo: “Tu és mísero vagabundo, Eu sou do mais alto cargo! Sou nobre, sou mais que tu! Portanto, passa de largo!” O pobre disse: “O teu cargo Foi a sorte quem te deu! Nasceste em berço de luxo, Cresceste no apogeu! Mias, caças, comes ratos… Em que és mais do que eu? Logo, este orgulho teu Não há razão pra ser forte… Vieste nu para a vida, Nu voltarás para a morte! Não chames, pois, de nobreza O que é apenas sorte”. Quem não se impor