Eu devia ter uns oito ou nove anos quando, pela primeira vez, ouvi falar sobre a Comadre Fulozinha. Eu morava em um bairro com ares de sítio. A rua ainda era um ambiente tranquilo para brincar, e os animais faziam parte do cenário. Em uma tarde qualquer, eu vi um cavalo com a crina amarrada, o que despertou minha curiosidade infantil. Um vizinho já idoso apontou para o equino e disse: “Foi a Comadre Fulozinha; eu bem que ouvi os assobios dela ontem”. E um arrepio de medo escorreu pelas minhas costas.
Voltando para casa, contei à minha mãe o que se passara. Com os olhos arregalados e em tom grave, ela explicou-me: “Comadre Fulozinha é um ser que protege os animais e as plantas, abre porteiras de fazendas e gosta de amarrar a crina de cavalos”. Meio cético, indaguei-lhe se a tal Comadre existia mesmo. Lembro-me de cada palavra da resposta: “Eu nunca a vi, mas quando era pequena, ouvia muito aqueles assobios lá longe… e pai dizia pra ninguém sair de casa, pois a Comadre estava por perto”.
Durante uns anos, esse fato ficou guardado em uma gaveta do meu coração. Há algum tempo, revisitei essa cena. Acho que a vida fica mais interessada quando colorida por seres de diversas naturezas, como anjos, fadas, duendes e – por que não? – personagens folclóricos. A verdade de muitas dessas criaturas está muito mais no que representam, nos ensinos que nos trazem e, principalmente, nas lembranças que nos evocam. Encontrar-me com a Comadre Fulozinha é, sobretudo, encontrar-me com o garoto que fui.
Sob esse sentimento, escrevi o livro ‘A lenda da Comadre Fulozinha’, que se encontra em fase de pré-lançamento pela Caravana Grupo Editorial. Na obra, uso a poesia popular para contar a história desta importante personagem do nosso folclore. O texto é simples, com um ritmo mnemônico e uma narrativa que busca nos conectar à natureza, aos outros e a nós mesmos.
Você pode adquirir o livro através do site da editora.