Conversamos com a professora Sabryna Thais, que também é mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela analisou a importância da Semana de Arte Moderna na historiografia literária brasileira e comentou sobre o papel da literatura na formação humana. Confira:
Estamos no centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, um tema que ainda gera polêmica. Qual sua visão sobre o assunto?
A Semana de Arte Moderna, sem dúvida, foi um marco na nossa história literária e das artes em geral, e teve sua importância, apesar das críticas e das polêmicas. Os artistas e escritores que participaram desta Semana tinham o intuito de trazer uma nova ‘cara’ para a literatura e para as outras artes. É importante essa renovação das artes, embora isso não implique dizer que devemos nos esquecer do que tínhamos até então. Devemos ter como base tudo de bom que recebemos dos grandes que vieram antes de nós. Porém, essa renovação – que fazia parte do momento histórico vivenciado principalmente em São Paulo – precisava ser demonstrado nas artes, e foi isso o que eles fizeram.
A qualidade dos quadros, das pinturas, da literatura produzida na Semana de Arte Moderna pode ser questionada, mas a intenção da mudança é necessária, de épocas em épocas. Então, nós devemos, sim, reconhecer a importância do movimento. Não somos presos à Semana de Arte Moderna, podemos criticá-la, mas hoje nós nos apoiamos naquilo que eles fizeram, tanto quanto com o que foi feito por aqueles que vieram antes, antes e antes.
Os autores da Semana de 1922 eram realmente talentosos ou foram ‘massificados’ midiaticamente e pela universidade?
Bom, os autores da Semana de Arte Moderna eram, sim, talentosos. Por exemplo, Oswald e Mário de Andrade têm seus talentos reconhecidos pelos críticos e pelo público. Porém, talvez, pela ânsia da ruptura, entraram um pouco por uma questão midiática, revolucionária, a vontade de agradar um grupo. Isso não quer dizer que não devam ser apreciados.
Do ponto de vista literário, a Geração de 1930 ‘sepultou’ a de 1922?
Na literatura, principalmente, nós nos apoiamos nos grandes escritores do passado. Então, mesmo os autores de 1930 buscando uma certa ruptura com os autores de 1922, eles dão continuidade ao Modernismo, dentro de bases e colunas. Então, não acho que a Geração de 1930 ‘sepultou’ a de 1922: ela se uniu e trouxe uma nova face, inaugurando uma nova fase, em nossa literatura.
Como você enxerga a importância do ensino de Literatura na Educação Básica?
O ensino de Literatura na Educação Básica é de extrema importância. Primeiro porque quem não lê bem não consegue desenvolver o que tanto se fala na educação brasileira, que é o pensamento crítico. Aplicar a Literatura desde cedo pode mudar todo um cenário futuro da Educação, com implicação nas outras áreas – Ciências, Matemática, Química, etc. Isso porque, através da Literatura, os estudantes vão saber interpretar o que estão lendo. Hoje, vemos que muitas vezes os alunos erram porque leem, mas não conseguem decodificar o que está escrito. Então, acredito, sim, que a Literatura deve ser trabalhada desde cedo nas escolas, e trabalhada bem.
Em que a literatura (sobretudo a clássica) contribui para a formação do ser humano?
A literatura contribui na formação do ser humano no sentido de que ela nos ajuda a observar. Ela serve como um espelho que reflete nossa própria vida e a vida dos nossos pares. Ela contribui para que possamos nos entender e entender nosso próximo e, assim, convivermos melhor. Passamos a ter consciência de que outras pessoas passaram e outras passarão pelas tristezas, angústias e sentimentos que eu passo hoje. Os personagens nos trazem tipos humanos, que são os mesmos desde os primórdios da antiguidade até hoje – e sempre serão. A literatura trata dos assuntos universais, que Aristóteles fala, que não vão mudar. As sociedades mudam, a cultura muda, mas o ser humano muda muito pouco. Então, a partir da literatura a gente consegue buscar um processo de individuação e sermos pessoas mais empáticas e compreensivas quanto ao outro e ao mundo. Sem dúvida, isso também nos ajuda a pensar, raciocinar, falar e contribuir melhor no convívio em sociedade.