Uma das maiores referências do Repente na atualidade, o cantador Luciano Leonel faz uma análise do atual cenário da cantoria e antecipa seus projetos profissionais. Confira:
Há
algumas décadas, muitos ‘previam’ que a cantoria de viola estava
prestes a acabar. Essas ‘previsões’ foram corretas?
A
cantoria que é uma arte de mais de 200 anos de existência, vem ao
longo do tempo sofrendo algumas modificações, na forma de ser
exposta e na sua própria execução. No entanto, nunca perdeu a sua
verdadeira essência e por esse motivo se mantém firme e evidente
até os dias atuais, mantendo um ciclo de inovações de repentistas
e ouvintes de cantoria, os famosos apologistas. Dito isso, tenho
plena convicção que a arte da cantoria só seria extinta se não
surgissem novos cantadores, mas por outros motivos acho difícil que
acabe, até porque enquanto houver cantadores haverá ouvintes.
O
advento da internet ajudou a divulgação da cantoria?
A
cantoria poderia estar em um patamar bem mais alto se as grandes
mídias tivessem dado a atenção que a cantoria merece. Apesar de
hoje ter o reconhecimento como profissão e o repente como
patrimônio, a meu ver, a cantoria ainda sofre muita discriminação.
A chegada da internet abriu uma janela para cantoria, na qual podemos
divulgar e defender nossa arte com mais afinco. Tem sido de suma
importância para nossos trabalhos e na pandemia foi uma forma de
continuarmos trabalhando mesmo longe do público.
Além
do repente, as canções de viola têm alcançando um bom espaço
entre o público. Você acha que isso pode, de alguma forma, diminuir
a força do repente?
As
canções fazem parte de um pacote de gêneros que pertencem à
cantoria, mas de forma alguma teria como diminuir a força do
repente, até porque sem repente não existe cantoria. Um show só de
canções pode ser chamado de qualquer outra coisa, menos de cantoria
- algo que só se destaca pelo encanto do improviso.
Quais
são seus projetos profissionais?
Atualmente,
estou prestes lançar um projeto chamado ‘Riacho de Cantoria’. O
nome do projeto faz alusão à cidade de Riacho das Almas-PE, onde
moro atualmente e tocarei o projeto. Trata-se de cantorias bimestrais
em um local já definido e com transmissão pelo Facebook na nossa
página. O projeto contará com sócios colaboradores e amigos
apoiadores da cantoria. A estreia está prevista para o dia 19 de
maio deste ano.
Há alguma estrofe que você
improvisou e marcou sua carreira? Qual?
Foram
muitas estrofes, durante esses 24 anos de carreira. Porém, uma que
muito se destaca é a que fiz em Campina Grande-PB em 2010, quando me
solicitaram o mote ‘Pulei da porta da morte / pela
janela da vida’:
A vida não é mesquinha,
Mas
tem surpresa de monte.
Vai ser preciso que eu conte
Parte
da história minha:
Quando num transporte eu vinha,
Fui
vítima de uma batida
E a mão de Deus estendida
Me
retirou do transporte.
Pulei da porta da morte
Pela
janela da vida.