Calma! Reconheço que esse título é capaz de assustar qualquer um, mas quero, a princípio, informá-lo que longe de mim está o desejo de redigir um artigo científico ou um tratado teológico sobre esse tema. Quero apenas convidá-lo a passear comigo por estas poucas linhas e, no transcorrer delas, dialogarmos (sim, por que não?) sobre um tema tão importante para aqueles que anseiam incorporar o caráter de Cristo no seu próprio caráter.
Ok. Discípulo é aquele que sela as palavras de Deus no seu coração (Is 8:16), isto é, quem põe a lei do Senhor no centro de suas vontades, idéias e sentimentos. Quanto a isso, tudo bem, nenhuma novidade. Afinal, escutamos essa definição em tudo quanto é culto - doutrina, oração, mocidade, proclamação, escola bíblica... enfim, nós já internalizamos esse conceito em nossa vida. Por isso mesmo, poderíamos resumir e dizer que discípulos somos nós, concorda? Então, o assunto de nossa conversa é a maneira que nós devemos proceder em uma sociedade pós-moderna. Certo?
Certo. Mas… o que é uma sociedade pós-moderna? De acordo com o escritor Jair Ferreira dos Santos, pós-modernismo é o nome dado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades a partir da segunda metade do século XX. Entre essas mudanças, destacam-se o bombardeio de informações e o carpe diem (“aproveite o dia”, em latim). O desenrolar dessas modificações, no âmbito individual, resultou em um sujeito dessubstancializado, narcisista e sem grandes ideais. Eita, tentando simplificar isso em outras palavras, o homem pós-moderno recebe informações fragmentadas a todo instante, seja pela TV, rádio, internet, outdoor, jornal, revista etc. – isso faz com que seja impossível para ele conectá-las e convertê-las em um conhecimento amplo. Destarte, ele se torna um vivente sem idiossincrasia vasta, pois, na prática, perdeu o conceito de que o tempo é linear e progressivo. Portanto, não há engajamento em mobilizações sociais, sindicais, partidárias etc. Isso é sintoma de uma ótica privatizada de si mesmo, por conta do hedonismo narcisista que impera na mente das pessoas hodiernas.
É verdade. E nossas igrejas não formam uma exceção nesse cenário. Já percebeu que os “grandes ideais” dos membros eclesiásticos, muitas vezes, é conseguir um carro novo ou comprar uma casa nova? E os líderes, quase sempre, se preocupam demasiadamente em “nobres” atividades, como qual vai ser o cantor ou pastor “de fora” que vai participar de determinada programação festiva (como se a “obra de Deus” se resumisse às meras atividades entre crentes salvos, satisfeitos e sentados – sem querer menosprezar as relações interpessoais entre cristãos, elas são importantíssimas)? Não há interesses comuns e abrangentes, o máximo que se consegue é um ou outro evento de marcha, digo, massa. E a vida deixa de ser um plano global e divino para tornar-se uma cadeia de eventos isolados e sem propósitos.
Já viu que todos nós tentamos fazer do nosso cotidiano uma festa? Um gesto corriqueiro – como ir ao templo – muitas vezes é travestido de glória e excessivamente comparado à santidade. A isso, o sociólogo francês Jean Baudrillard chama de espetacularização da vida – a Bíblia chama de “concupiscência da carne” (I Jo 2:16). Já parou para pensar o quanto hipervalorizamos a aparência, pondo-a acima a essência, às vezes? Lembrei-me de um colega meu – não vou dizer que ele é da minha igreja, mas é. Após eu ter comentado que a namorada (dele) era muito bonita, jactou-se e disse: “Bonita mesmo é a foto dela no profile do Orkut!”. Usando as palavras de Baudrillard, mais vale a simulação do real (“concupiscência dos olhos”) do que o próprio real. Sendo assim, mais bela do que a beleza da menina (que é bela mesmo, não vou mentir...) é a beleza da fotografia que ultravaloriza a beleza da garota (vê? É complicado, mas é simples...). Além disso, o sociólogo aponta a sedução do sujeito como característica intrínseca ao pós-modernismo. É o que as Sagradas Escrituras chamam de “soberba da vida”. Seduzir quer dizer atrair. Dá-se a idéia de que o ser é único, mais importante do que os outros. Os fones de ouvido, por exemplo, privam os demais de partilharem a mesma informação que “você”, somente “você” tem acesso. Da mesma forma que “você” vai à igreja para receber a sua bênção. Os louvores, as orações e a pregação devem estar em conformidade com o seu gosto. Caso contrário, a igreja está errada...
Mas não é esse o plano original de Deus! Voltemos para I João 2:16: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”. A posição do discípulo em uma sociedade pós-moderna é de vivenciar e apregoar que a vida humana não é, nem pode ser uma sucessão de fatos, mas é a expressão da glória de Deus (I Cor 1:31). A aparência das coisas não tem importância para o Senhor, pois Ele “escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas para envergonhar as fortes, Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (I Cor 1:2-29).
O discípulo deve crer “no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir” (como disse Frei Betto); deve ter uma visão de Reino e não de templo; deve ter um olhar à frente e não limitado; deve amar a Deus mais do que tudo e ao próximo como a si mesmo; deve ter a Bíblia como regra de fé e prática, não os estatutos doutrinários terrenos; deve dar-se pelo prazer de dar-se, como Cristo deu-se ao mundo em prol de pecadores; deve chorar com os que choram, gargalhar com os que gargalham; deve se despir de todo sentimento faccioso e revestir-se da armadura de Deus; deve ser uma bênção (Gên 12:2) e não buscar receber incontáveis bênçãos. O discípulo de Cristo deve ser para o mundo como a alma é para o corpo. Sejamos, pois, dessa forma, sal e luz, a fim de colocarmos Jesus Cristo como modelo para um mundo sem referência. Ele é a única substância de amor perene que pode preencher o dessubstancializado ser pós-moderno e nós, os Seus discípulos, somos o único canal capaz de fazer com que isso aconteça.
Ok. Discípulo é aquele que sela as palavras de Deus no seu coração (Is 8:16), isto é, quem põe a lei do Senhor no centro de suas vontades, idéias e sentimentos. Quanto a isso, tudo bem, nenhuma novidade. Afinal, escutamos essa definição em tudo quanto é culto - doutrina, oração, mocidade, proclamação, escola bíblica... enfim, nós já internalizamos esse conceito em nossa vida. Por isso mesmo, poderíamos resumir e dizer que discípulos somos nós, concorda? Então, o assunto de nossa conversa é a maneira que nós devemos proceder em uma sociedade pós-moderna. Certo?
Certo. Mas… o que é uma sociedade pós-moderna? De acordo com o escritor Jair Ferreira dos Santos, pós-modernismo é o nome dado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades a partir da segunda metade do século XX. Entre essas mudanças, destacam-se o bombardeio de informações e o carpe diem (“aproveite o dia”, em latim). O desenrolar dessas modificações, no âmbito individual, resultou em um sujeito dessubstancializado, narcisista e sem grandes ideais. Eita, tentando simplificar isso em outras palavras, o homem pós-moderno recebe informações fragmentadas a todo instante, seja pela TV, rádio, internet, outdoor, jornal, revista etc. – isso faz com que seja impossível para ele conectá-las e convertê-las em um conhecimento amplo. Destarte, ele se torna um vivente sem idiossincrasia vasta, pois, na prática, perdeu o conceito de que o tempo é linear e progressivo. Portanto, não há engajamento em mobilizações sociais, sindicais, partidárias etc. Isso é sintoma de uma ótica privatizada de si mesmo, por conta do hedonismo narcisista que impera na mente das pessoas hodiernas.
É verdade. E nossas igrejas não formam uma exceção nesse cenário. Já percebeu que os “grandes ideais” dos membros eclesiásticos, muitas vezes, é conseguir um carro novo ou comprar uma casa nova? E os líderes, quase sempre, se preocupam demasiadamente em “nobres” atividades, como qual vai ser o cantor ou pastor “de fora” que vai participar de determinada programação festiva (como se a “obra de Deus” se resumisse às meras atividades entre crentes salvos, satisfeitos e sentados – sem querer menosprezar as relações interpessoais entre cristãos, elas são importantíssimas)? Não há interesses comuns e abrangentes, o máximo que se consegue é um ou outro evento de marcha, digo, massa. E a vida deixa de ser um plano global e divino para tornar-se uma cadeia de eventos isolados e sem propósitos.
Já viu que todos nós tentamos fazer do nosso cotidiano uma festa? Um gesto corriqueiro – como ir ao templo – muitas vezes é travestido de glória e excessivamente comparado à santidade. A isso, o sociólogo francês Jean Baudrillard chama de espetacularização da vida – a Bíblia chama de “concupiscência da carne” (I Jo 2:16). Já parou para pensar o quanto hipervalorizamos a aparência, pondo-a acima a essência, às vezes? Lembrei-me de um colega meu – não vou dizer que ele é da minha igreja, mas é. Após eu ter comentado que a namorada (dele) era muito bonita, jactou-se e disse: “Bonita mesmo é a foto dela no profile do Orkut!”. Usando as palavras de Baudrillard, mais vale a simulação do real (“concupiscência dos olhos”) do que o próprio real. Sendo assim, mais bela do que a beleza da menina (que é bela mesmo, não vou mentir...) é a beleza da fotografia que ultravaloriza a beleza da garota (vê? É complicado, mas é simples...). Além disso, o sociólogo aponta a sedução do sujeito como característica intrínseca ao pós-modernismo. É o que as Sagradas Escrituras chamam de “soberba da vida”. Seduzir quer dizer atrair. Dá-se a idéia de que o ser é único, mais importante do que os outros. Os fones de ouvido, por exemplo, privam os demais de partilharem a mesma informação que “você”, somente “você” tem acesso. Da mesma forma que “você” vai à igreja para receber a sua bênção. Os louvores, as orações e a pregação devem estar em conformidade com o seu gosto. Caso contrário, a igreja está errada...
Mas não é esse o plano original de Deus! Voltemos para I João 2:16: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”. A posição do discípulo em uma sociedade pós-moderna é de vivenciar e apregoar que a vida humana não é, nem pode ser uma sucessão de fatos, mas é a expressão da glória de Deus (I Cor 1:31). A aparência das coisas não tem importância para o Senhor, pois Ele “escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas para envergonhar as fortes, Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (I Cor 1:2-29).
O discípulo deve crer “no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir” (como disse Frei Betto); deve ter uma visão de Reino e não de templo; deve ter um olhar à frente e não limitado; deve amar a Deus mais do que tudo e ao próximo como a si mesmo; deve ter a Bíblia como regra de fé e prática, não os estatutos doutrinários terrenos; deve dar-se pelo prazer de dar-se, como Cristo deu-se ao mundo em prol de pecadores; deve chorar com os que choram, gargalhar com os que gargalham; deve se despir de todo sentimento faccioso e revestir-se da armadura de Deus; deve ser uma bênção (Gên 12:2) e não buscar receber incontáveis bênçãos. O discípulo de Cristo deve ser para o mundo como a alma é para o corpo. Sejamos, pois, dessa forma, sal e luz, a fim de colocarmos Jesus Cristo como modelo para um mundo sem referência. Ele é a única substância de amor perene que pode preencher o dessubstancializado ser pós-moderno e nós, os Seus discípulos, somos o único canal capaz de fazer com que isso aconteça.
Jénerson Alves