Formado em
Teologia com Especialização em Missões, o missionário José Ricardo do Nascimento
Santos – que também é pedagogo e técnico em Enfermagem – há seis anos trabalha
no Senegal. Atualmente, ele desenvolve atividades em uma igreja em Dakar,
capital daquele país, promovendo atendimentos na área de saúde, além de integrar
o Projeto Moisés, voltado para profissionalização dos novos crentes daquele
lugar, e atuar no Programa de Educação Pré-Escolar (PEPE), com 58 crianças, bem
como com uma classe para surdos.
José Ricardo |
No último fim de
semana, ele esteve em Caruaru, participando do Conexão Missionária, evento
promovido para despertar o sentimento por missões nos cristãos evangélicos, que
aconteceu durante todo o sábado 2, na Primeira Igreja Batista de
Caruaru.
Eis a
entrevista:
Você é bem jovem –
tem 35 anos –, tendo se convertido aos 19 anos e tornado-se missionário em 2005.
De que forma aconteceu a certeza da vocação ministerial?
Foi através de
oração, pois Deus sempre incomodava no coração. As campanhas missionárias, bem
como as promoções e divulgações sobre o tema, com testemunhos de missionários,
também foram importantes. Um dos grandes desafios que Deus colocou no meu
coração foi trabalhar com o povo fulane, que é um povo missionário do islã, no
oeste da África. Quando eu tive contato com esse povo, tive a convicção de que
eu precisaria trabalhar com eles. Foi a partir do conhecimento das necessidades
no campo missionário que me impulsionaram para a missão.
E como foi a questão
do choque cultural, quando você deixou o Brasil para fazer o trabalho na
África?
O choque cultural é
inevitável. Por mais bem preparado que o missionário esteja, ele é um processo
natural. Portanto, é necessário ter as ferramentas corretas para superá-lo. Uma
das dificuldades que eu tive primeiro foi a língua, por causa das diversas
línguas faladas nesses países do oeste da África, além do conceito de higiene,
de limpeza, que era diferente para mim. No começo, foi muito difícil para mim,
mas, graças a Deus, eu consegui superar essa parte do choque cultural, com o
apoio dos colegas e procurando entender a mentalidade do povo.
Em algum momento,
você não sentiu que seria um pouco de empáfia mostrar os valores evangélicos em
um local onde a cultura muçulmana já está tão enraizada?
Não. O sistema
religioso islâmico é muito fechado e ele não te permite, em um primeiro momento,
chegar com a mentalidade de ir e ensinar. Primeiro, é necessário criar
relacionamentos com o apoio. É inimaginável chegar num país islâmico e querer
começar a ensinar o povo. Se alguém for com essa mentalidade, as portas,
automaticamente, serão fechadas.
Qual a experiência
mais marcante em seu ministério?
Uma experiência muito
marcante para mim foi quando eu trabalhei em uma aldeia no sul do Senegal. Eu
trabalhei como enfermeiro nessa aldeia. Uma das grandes dificuldades é que não
havia nenhuma cobertura médica naquela localidade. Sempre que as pessoas
necessitavam, iam no chefe religioso, que também era um feiticeiro. Meu desafio
era apresentar a parte legal da enfermagem e eles serem bem-sucedidos. Uma das
orações que eu fiz a Deus no primeiro mês que eu cheguei foi que nenhuma criança
fosse a óbito durante o período em que eu estivesse trabalhando na aldeia. E,
graças a Deus, essa foi uma oração particular, mas mesmo após eu deixar de atuar
naquela aldeia, ao voltar para lá, em uma visita, o chefe salientou, em uma
visita, agradecendo a Deus porque no meu período nenhuma criança tenha ido a
óbito. Esse foi um momento de muita alegria para mim, pois o pedido que eu fiz
em particular a Deus tocou o coração daquela comunidade
também.
Como tem sido o
crescimento missionário no Senegal?
Olha, os projetos
sociais têm sido muito bem aceitos pelo fato da necessidade do povo, seja na
área médica, educacional, ou profissionalização. Isso é bem aceito. O Evangelho,
contudo, é um processo mais lento, pois é através do relacionamento, da
confiança, da credibilidade que o missionário adquire com a comunidade,
desenvolvendo atividades que mostrem Jesus a eles.
Outra coisa é que
quando nós desenvolvemos atividades missionárias, não estamos visando somente ao
espírito da pessoa, para que ela venha a se converter. Nosso olhar é integral,
que ela esteja bem socialmente, fisicamente, e também espiritualmente. A missão
deve ser integral. Não é uma troca, é uma forma de fazer o bem.