Continuando nossa série de entrevistas, conversamos com o poeta popular Espingarda do Cordel. Ele faz uma análise do cenário cultural e conta um pouco de sua história e projetos. Confira:
O seu nome é ‘José Antonio’. De onde veio a ideia de assinar os trabalhos como ‘Espingarda do Cordel’?
Surgiu a partir de
um concurso do qual participei, realizado pelo Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O mesmo exigia em seu
edital que os cordéis concorrentes não fossem inscritos com o nome
original do autor e sim com um pseudônimo para não tendenciar o
julgamento da comissão. Por sugestão de um grande amigo, o qual
também é poeta e escultor na madeira, chamado Chico Matuto, foi que
coloquei o nome Espingarda do Cordel. Tendo uma boa colocação no
concurso e sendo visto de forma única e engraçada pelas pessoas, vi
que seria um nome marcante para se trabalhar e hoje é o meu nome
artístico, adotado há mais de 17 anos. Essa é a história, mas o
significado é que, sendo Espingarda do Cordel, eu atiro poesia,
levando sempre uma mensagem de reflexão, humor e paz por onde a
nossa arte consegue chegar.
O Cordel é uma arte com
muitas exigências. Como você avalia a produção contemporânea no
Nordeste?
O cordel, essa arte
secular que tanto se difundiu no Nordeste brasileiro, ainda continua
vivo em uma boa ascensão. No que diz respeito ao quantitativo de
produção, tem mostrado bons frutos, assim como também há muitas
coisas que, se formos analisar, estão fora dos padrões exigidos
para tal gênero literário. A poesia é livre e pode ser empregada
da maneira que o autor desejar, no entanto o cordel exige regras que
devem ser respeitadas, pois quando não são levadas em consideração
tiram a originalidade do mesmo.
Assim como a música
precisa de ritmo e melodia para ser harmônica, o cordel precisa de
rima, métrica e oração para manter a sua harmonia. Porém, muitos
têm desrespeitado esses quesitos, vejo que é por falta de
compromisso com a arte e capacidade poética mesmo, mas quero aqui
ressaltar que o cordel nordestino tem muitos bons autores e que esses
Mestres devem ser vistos como espelhos para as demais gerações.
Você idealizou a coleção Viva Cordel. Como surgiu a ideia?
Eu quis dar uma nova
roupagem ao cordel no que diz respeito à sua estética, melhorando a
qualidade gráfica e trazendo cores vibrantes em suas capas, usando
desde a tradicional xilogravura - um outro expoente do meu trabalho -
até estampas de outras culturas tradicionais do oriente.
Despertando, assim, a atenção do leitor pela beleza visual e o
envolvendo em seguida com a literatura.
Além de declamador e poeta, você é promotor de eventos. Como estão os preparativos para o festival que acontecerá neste mês em Caruaru?
Estão caminhando
bem, com as graças de Deus e o apoio que sempre contamos com o povo
da cantoria e os empresários que têm sensibilidade pela arte. Este
ano será a 14ª noite dos poetas cantadores, e estamos trazendo dez
grandes nomes do repente nordestino; são eles: Fenelon Dantas, Zé
Viola, Rogério Menezes, Sebastião Dias, Raimundo Caetano, Edvaldo
Zuzu, Erasmo Ferreira, Daniel Olímpio, João Lourenço e Hipólito
Moura, além da participação especial do declamador Raudenio Lima.
A apresentação será por nossa conta.
O evento será realizado no teatro do SESC Caruaru no dia 26 de agosto, tendo início às 19h30. O ingresso custa vinte reais, quem quiser fazer a sua reserva é só entrar em contato conosco através do número 081 99934.6486.
Convidamos a
todos para essa grande festa!
Deixe-nos uma estrofe marcante em sua carreira…
Fui dormir desejando
o sol ardente
Acordei, avistei o céu cinzento
E parei pra
pensar por um momento
Veio um raio de luz na minha mente
Vi
que a vida não é tão diferente
Se parece demais com as
estações
Com mal tempo, com atribulações
Registrando
passagem em toda era
Porém Deus sempre manda a
primavera
Perfumando de amor os corações.