terça-feira, 30 de setembro de 2025

Do cinema à realidade

 



Sempre gostei da temática de máquinas dominando seres humanos, narrativa comum em filmes de ficção científica que marcaram minha geração. Hoje percebi que o futuro distópico deixou os roteiros de cinema e veio para a vida real. E a realidade é mais aterradora do que a ficção.


Não precisou nenhuma revolução das máquinas. HAL não precisou se contrapor às ordens. Também não foi necessário fazer mutações genéticas, transformando homens em androides.


Basta olhar nos olhos de algumas pessoas – jovens, adolescentes, adultos ou até mesmo crianças! São olhos vazios. “Lucerna corporis est oculus”. E o que fazer se nos olhos não há luz?


São corações estéreis de sonhos, gélidos de sentimentos; são mentes escassas de ideias, cérebros de rasos pensamentos. E como estará a alma?


Imaginar um futuro a partir dessas perspectivas é um estopim para o desespero. Um futuro sem futuro.


Todavia, recuso-me a aceitar tão nocivo prognóstico. Prefiro crer que a Providência continua providente. Há remanescentes humanos, cuja consciência vai além da matrix. São olhos que – mais do que veem – enxergam; corações que pulsam; mentes que refletem; almas que vivem. Semeadores de esperança que colherão luz.


Texto: Jénerson Alves

Imagem: Frame do filme ‘2001, uma odisseia no espaço’



domingo, 14 de setembro de 2025

Da Gramática à Literatura - por Jénerson Alves

 


Assim como as asas são para as aves, são os conhecimentos de Gramática e de Literatura para os que querem compreender e usar bem a Língua Portuguesa. Estudar Gramática não é decorar regras, mas é compreender – de forma metódica ou histórica – os fatos de uma língua. Estudar Literatura não é memorizar períodos, autores e obras, mas compreender nuances e entrelinhas.


A Gramática nos oferece munições. Quanto mais soubermos sobre o idioma – suas particularidades, como fonética, morfologia e sintaxe –, mais saberemos empregar o vernáculo de maneira clara e expressiva. A Literatura é o campo de batalha. É nela que se busca o Belo a partir da palavra. E o Belo é agradável pelo esplendor de sua grandeza, para o qual é necessário ser dotado de integridade, harmonia e claridade.


Ora, ao falarmos em integridade, entenda-se que a obra deve ser inteira e não disforme; a harmonia trata-se da proporção das partes; e a claridade, da equilibrada distribuição de luz e sombras. Esses fatores, na literatura, aparecem no emprego de frases apropriadas, de figuras de linguagem, de simplicidade mas não trivialidade.


No estudo das obras literárias, é muito importante levarmos em conta aspectos gramaticias, históricos, sociais, sobretudo seguindo um processo indutivo, isto é, do particular para as generalidades. Não é só saber, por exemplo, que o Romantismo exalta a mulher ou que o Parnasianismo cultua a forma, é identificar essas realidades na obra e delas extrair conteúdos para a vida.


Afinal, já nos dissera o professor Fidelino de Figueiredo: “A literatura é coisa tão estreitamente ligada às tendências profundas do homem, ao seu impulso vital, à sua luta com o ambiente, à sua fúria de interpretação e libertação que só quem de perto ou de longe tem no espírito algum aspecto desse drama a pode aprender isto é, procurar e achar nela o que responde às suas curiosidades e angústias, na medida em que elas se casam às do artista criador”.


sábado, 13 de setembro de 2025

Luiz Gonzaga e Luís de Camões: dois imortais - por Jénerson Alves

 


O nome “Luís” significa “ilustre guerreiro”. Entre os “luízes” inesquecíveis, cito Luiz Gonzaga e de Luís Vaz de Camões.


Cantor e compositor, Luiz Gonzaga nasceu na Fazenda Caiçara, em Exu-PE, no dia 13 de dezembro de 1912.


Do poeta Luíz Vaz de Camões, não sabemos quando nem onde nasceu. Se foi em 1509, 1524 ou 1525… em Lisboa, Coimbra, Alenquer ou Santarém…


Recebeu Luiz Gonzaga o título de “Rei do Baião”, como uma das peças fundamentais na construção do imaginário do Nordeste.


Camões é considerado o “Homero das línguas vivas”, o maior lírico e épico da língua portuguesa.


Luiz Gonzaga recebeu influência dos cantadores populares. O baião da viola nordestina foi o elemento que gerou o baião da sanfona de Gonzaga.


Camões recebeu influência dos cancioneiros trovadores, na produção de versos de cinco e sete sílabas.


Diz um poema de Camões:

Verdes são os campos
De cor de limão;
Assim são os olhos
Do meu coração.”


Diz Luiz Gonzaga, em uma música feita em parceria com Humberto Teixeira:
“Quando o verde dos teus olhos se espalhar na plantação,
Eu te asseguro, não chores não, viu, que eu voltarei, viu, meu coração.”


Penso que ou Luiz Gonzaga leu Camões ou a inspiração dos dois era muito parecida.

Gonzaga e Camões: dois gênios, dois imortais. Jamais serão esquecidos.

domingo, 4 de maio de 2025

Vou levar Lady Gaga para ouvir um baião de viola nordestina - Jénerson Alves


Mote e glosas: Jénerson Alves


 

Foto: Wikipedia

Lady Gaga, cantora americana,
É famosa demais no mundo inteiro,
Fez um show lá no Rio de Janeiro
Que, de graça, lotou Copacabana.
Vou levá-la, qualquer fim de semana,
Para ouvir a viola que se afina,
De Lucinha Saraiva, Minervina,
João Lourenço, Hipólito e Moacir.
Vou levar Lady Gaga para ouvir
Um baião de viola nordestina.

 

A cantora, que é muito afamada,
Brilha em palcos do sul, norte e oeste,
Venha ver as belezas do Nordeste,
Escutar o forró numa latada.
Conhecer o que é uma buchada,
Degustar, com pão doce, cajuína.
No Sertão, Pepsi Cola não fascina,
E hamburger é ruim para engolir!
Vou levar Lady Gaga para ouvir
Um baião de viola nordestina.

 

Essa diva famosa canta bem,
Do sucesso, subiu em seus andaimes,
Canta “Shallow”, “in all the good times”,
“Zoombieboy”, “Paparazzi”, “Shadow of a Man”.
Venha cá, no Nordeste, que aqui tem
O balanço feliz da concertina,
O cheirinho de Dona Carolina,
E Samarica Parteira pra acudir,
Vou levar Lady Gaga para ouvir
Um baião de viola nordestina.

 

Venha aqui, pra quebrar todo tabu,
Com o campônio sabido dialogue,
Troque um pouco o sabor do hot-dog
Por cuscuz, tapioca e por beiju.
Venha ao Pátio que tem Caruaru,
Vá ao Parque do Povo de Campina,
Onde a moça que tem cintura fina
Rodopia e balança sem cair,
Vou levar Lady Gaga para ouvir
Um baião de viola nordestina.

 

Lady Gaga tem muita melodia
No manejo das notas musicais,
Nas colcheias, nas fusas liriais,
Na guitarra, piano e bateria;
Mas escute a autêntica cantoria
Da bucólica poética genuína,
Que a rima parece uma turbina
E o poeta faz verso reluzir,
Vou levar Lady Gaga para ouvir
Um baião de viola nordestina!

quarta-feira, 30 de abril de 2025

100 anos de Jansen Filho, um poeta a ser (re)descoberto - por Jénerson Alves

 


Se vivo estivesse, o poeta Jansen Filho completaria 100 anos neste dia 1º de maio de 2025. Astro de primeira grandeza, deve seu nome estar nos mais elevados patamares das letras brasileiras. As novas gerações merecem e precisam (re)descobrir este poeta, que tem a brasilidade como marca indelével.


Tendo-se notabilizado como repentista e escritor, Jansen Filho encarnou em si a essência de duas cidades onde viveu e estudou: Monteiro, sua terra-natal e também do genial repentista Severino Pinto, e Taubaté, cidade em que nasceu Monteiro Lobato, autor d'O Sítio do Picapau Amarelo. 


Quando improvisava, Jansen Filho até prescindia do acompanhamento da viola e de sua boca jorravam versos com perfeita métrica e oração envolvente. A excelência da inspiração era lapidada em seus versos escritos, como pode ser comprovado em vários livros, dentre os quais citaremos 'Um sonho em cada canteiro' e 'Caravana de estrelas'. Seu talento poético o conduziu a liceus, bibliotecas, emissoras de rádio e televisão, atendendo a convites para realizar recitativos e apresentações empolgantes, com improvisos luzidios como estrelas cadentes. 


Com estro superior, foi alvo de elogios e admiração da parte de gênios de áreas distintas. O escritor Jorge Amado registrou: "Jansen Filho é um poeta que nasce da terra e do povo. Sua poesia tem cheiro de terra, de agreste, de sertão. Sua voz é pura e legítima". O jornalista Plínio Salgado descreveu-o como "o mais brasileiro dos poetas da sua geração". A romancista Dinah Silveira de Queiroz, segunda mulher a tomar posse na Academia Brasileira de Letras, assim o exaltou: "Jansen Filho, o poeta viajor do Tempo, me apareceu em casa. E foi festejando tudo em versos que se despejavam em cascatas de água pura. Essa espantosa figura que verseja, aparentemente, com mais facilidade do que nós conversamos - sem pausas longas, sem hesitações - como se fosse um caso raro de mediunidade".


O poeta morreu em São Paulo, no dia 18 de julho de 1994. Contudo, seu legado não pode ser esquecido. Doloroso é perceber que tão nobre autor hoje é desconhecido de muitos, inclusive dos nossos estudantes de Ensino Fundamental e Médio. É urgente que seja lido, nos mais diversos rincões, sobretudo diante de uma realidade em que a poesia brasileira padece com as impiedosas feridas que lhe impugnam os zelotes do idioma. 



Jénerson Alves é professor, jornalista, poeta e vice-presidente da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel.


sexta-feira, 7 de março de 2025

3 mulheres cordelistas que você precisa conhecer

 



JOSILEIDE CANTALICE

Josileide Cantalice nasceu em Bezerros-PE, em 1959. É casada, mãe de dois filhos e avó de cinco netos. Aposentada. Começou a escrever poemas em 2015, aos 56 anos de idade. Ainda criança apreciava a Literatura de Cordel, lendo folhetos para seus pais e vizinhos. Recentemente publicou o seu primeiro livro, intitulado 'Poesia e Fé'.


Disse Rute a Noemi:

Eu não vou te abandonar

Aonde quer que tu fores 

Eu irei te acompanhar 

E onde quer que pousares

Também eu irei pousar.






EDIANA TORRES

Ediana do Socorro Torres Fraga nasceu em 01.05.1977, na cidade de Bezerros-PE.

É mulher negra, agricultora, artesã, cabeleireira, poetisa e declamadora.

Em 2017, foi uma das vencedoras do Primeiro Recital Poético de Bezerros.

É integrante da AMALB (Associação do Movimento Artístico e Literário de Bezerros).



Ensinar nossas crianças 

Com carinho e com respeito 

Ainda é o melhor caminho 

Para um futuro perfeito;

É formando o cidadão 

Que se faz uma nação 

Dizer "não" ao preconceito.





DALINHA CATUNDA

Maria de Lourdes Aragão Catunda, conhecida como Dalinha Catunda, nasceu em Ipueiras - Ceará, no dia 28 de outubro de 1952, e reside no Rio de Janeiro. Ocupa a cadeira 25 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC, que tem como patrono o poeta e folclorista cearense, Juvenal Galeno.


Não nasci pra ser piolho

Tenho meu discernimento

Jamais segui a manada

Pra isso tenho argumento

Prefiro ter meu poder

Sem empoderada ser

Só sigo meu pensamento.


Dalinha Catunda

Uma mulher notável

 

As terras bíblicas foram o cenário de viagens feitas por Egéria, uma mulher incrível que viveu no século IV.


Estudos apontam que ela possuía origem ibérica e viajou por terras distantes, como a Palestina, Península do Sinai, Egito, Síria e Edessa, para além do Rio Eufrates.


Boa parte dos seus relatos de viagens foi preservada. Ela mandou o documento a suas "irmãs" - provavelmente monjas. Em um dos trechos, ela narra como foi sua chegada ao Monte Sinai.


"Conforme caminhávamos, chegamos a certo lugar onde as montanhas que atravessávamos abriam-se para dar lugar a um extenso vale, plano e belíssimo, e, mais além do vale, víamos o Sinai, a montanha sagrada de Deus (...). Era o grande extenso vale onde os filhos de Israel esperaram por Moisés, que tinha subido ao monte e passado ali quarenta dias e quarenta noites. Foi nesse vale que fizeram para si o bezerro de ouro, e até o dia de hoje, uma grande pedra marca o lugar. Foi na entrada desse vale que o santo Moisés apascentava os rebanhos do seu sogro e onde Deus falou-lhe de uma sarça ardente".


Além das experiências religiosas, Egéria descreve a topografia e a flora dos lugares por onde passou. Ela também retrata os serviços dominicais, traçando um panorama de como viviam os cristãos naquela época, a qual coincide com os tempos do Concílio de Constantinopla.


Egéria é uma mulher que peregrina rumo à espiritualidade, um símbolo da trajetória de todos os cristãos. Sua vida é uma inspiração para a caminhada cristã.

Do cinema à realidade

  Sempre gostei da temática de máquinas dominando seres humanos, narrativa comum em filmes de ficção científica que marcaram minha geração....