Crocificione di San
Pietro é uma das mais conhecidas obras de Caravaggio. Produzida em 1601,
encontra-se na Capela de Santa Maria del Popolo, em Roma. No quadro, é possível
observar a técnica do chiaroscuro
(mistura de luz e sombra) utilizada magistralmente pelo pintor. Com estética
barroca, o fusionismo presente na imagem expressa elementos da oposição humano
x divino.
Chama a atenção na obra o descomunal esforço envidado pelos
algozes do Apóstolo. Apesar de longevo, o peso de S. Pedro é superior à força
dos carrascos – dos quais, diga-se de passagem, não são revelados os rostos.
Por sua vez, o discípulo do Senhor Jesus apresenta uma face serena, a despeito
de estar frente à morte. A tranquilidade expressa na tela difere do caráter
impulsivo do jovem Pedro demonstrado nos Evangelhos, aproximando-se da
personalidade demonstrada em suas cartas, escritas na velhice do Apóstolo.
Ainda observando o quadro, vemos que o artista retratou a
tradição cristã de que Pedro teria morrido crucificado de cabeça para baixo.
Segundo os relatos, o Apóstolo não se sentia digno de ter uma morte similar à
do Mestre. Supõe-se que Pedro tenha sido crucificado no ano 65, sob a
perseguição de Nero.
Na sua segunda epístola, provavelmente redigida no ano 60,
Pedro já admoestava aos cristãos da época acerca da proximidade de seu
falecimento. “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como
também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado” (II Pedro 1:14). A
revelação de Cristo acerca da morte do discípulo deu-se após a ressurreição do
Senhor, no momento em que Jesus lhe diz: “Quando já fores velho, estenderás as
tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras”, conforme
está registrado no Evangelho de São João, capítulo 21.
A morte do Apóstolo Pedro revela o testemunho de um homem
que se manteve fiel à sua fé. Ele era um rude pescador nascido em Betsaida, na
Galileia, que ouviu o chamado de Jesus para ser feito “pescador de
homens”. Após soltar os remos e as redes
do barco e caminhar com o Carpinteiro, presenciou milagres e maravilhas. Essa
experiência fê-lo exclamar a essência da igreja cristã: “Tu és o Cristo, o
Filho do Deus Vivo” (Mt 16:16). Acerca desta confissão, explica-nos o padre
Antônio Vieira no Sermão de São Pedro, pregado em Lisboa em 1644:
“Cristo é Filho de Deus, e nós também somos filhos de Deus: Dedit eis potestatem Filios Dei fieri.
Em que se distingue logo Cristo de nós? Em que Cristo é Filho de Deus vivo, nós
somos filhos de Deus morto. Cristo Filho de Deus vivo, porque Deus, que é
imortal, o gerou ab aeterno; nós
filhos de Deus morto, porque o mesmo Cristo, morto nos braços da cruz, foi o
que nos gerou de novo e nos deu este segundo e mais sublime nascimento”.
Jénerson Alves