sexta-feira, 12 de agosto de 2022

“O cordel exige regras que devem ser respeitadas”, explica Espingarda do Cordel

 

Continuando nossa série de entrevistas, conversamos com o poeta popular Espingarda do Cordel. Ele faz uma análise do cenário cultural e conta um pouco de sua história e projetos. Confira:






O seu nome é ‘José Antonio’. De onde veio a ideia de assinar os trabalhos como ‘Espingarda do Cordel’?

Surgiu a partir de um concurso do qual participei, realizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O mesmo exigia em seu edital que os cordéis concorrentes não fossem inscritos com o nome original do autor e sim com um pseudônimo para não tendenciar o julgamento da comissão. Por sugestão de um grande amigo, o qual também é poeta e escultor na madeira, chamado Chico Matuto, foi que coloquei o nome Espingarda do Cordel. Tendo uma boa colocação no concurso e sendo visto de forma única e engraçada pelas pessoas, vi que seria um nome marcante para se trabalhar e hoje é o meu nome artístico, adotado há mais de 17 anos. Essa é a história, mas o significado é que, sendo Espingarda do Cordel, eu atiro poesia, levando sempre uma mensagem de reflexão, humor e paz por onde a nossa arte consegue chegar.

O Cordel é uma arte com muitas exigências. Como você avalia a produção contemporânea no Nordeste?

O cordel, essa arte secular que tanto se difundiu no Nordeste brasileiro, ainda continua vivo em uma boa ascensão. No que diz respeito ao quantitativo de produção, tem mostrado bons frutos, assim como também há muitas coisas que, se formos analisar, estão fora dos padrões exigidos para tal gênero literário. A poesia é livre e pode ser empregada da maneira que o autor desejar, no entanto o cordel exige regras que devem ser respeitadas, pois quando não são levadas em consideração tiram a originalidade do mesmo.

Assim como a música precisa de ritmo e melodia para ser harmônica, o cordel precisa de rima, métrica e oração para manter a sua harmonia. Porém, muitos têm desrespeitado esses quesitos, vejo que é por falta de compromisso com a arte e capacidade poética mesmo, mas quero aqui ressaltar que o cordel nordestino tem muitos bons autores e que esses Mestres devem ser vistos como espelhos para as demais gerações.

Você idealizou a coleção Viva Cordel. Como surgiu a ideia?

Eu quis dar uma nova roupagem ao cordel no que diz respeito à sua estética, melhorando a qualidade gráfica e trazendo cores vibrantes em suas capas, usando desde a tradicional xilogravura - um outro expoente do meu trabalho - até estampas de outras culturas tradicionais do oriente. Despertando, assim, a atenção do leitor pela beleza visual e o envolvendo em seguida com a literatura.

Além de declamador e poeta, você é promotor de eventos. Como estão os preparativos para o festival que acontecerá neste mês em Caruaru?

Estão caminhando bem, com as graças de Deus e o apoio que sempre contamos com o povo da cantoria e os empresários que têm sensibilidade pela arte. Este ano será a 14ª noite dos poetas cantadores, e estamos trazendo dez grandes nomes do repente nordestino; são eles: Fenelon Dantas, Zé Viola, Rogério Menezes, Sebastião Dias, Raimundo Caetano, Edvaldo Zuzu, Erasmo Ferreira, Daniel Olímpio, João Lourenço e Hipólito Moura, além da participação especial do declamador Raudenio Lima. A apresentação será por nossa conta.

O evento será realizado no teatro do SESC Caruaru no dia 26 de agosto, tendo início às 19h30. O ingresso custa vinte reais, quem quiser fazer a sua reserva é só entrar em contato conosco através do número 081 99934.6486.


Convidamos a todos para essa grande festa!


Deixe-nos uma estrofe marcante em sua carreira…

Fui dormir desejando o sol ardente
Acordei, avistei o céu cinzento
E parei pra pensar por um momento
Veio um raio de luz na minha mente
Vi que a vida não é tão diferente
Se parece demais com as estações
Com mal tempo, com atribulações
Registrando passagem em toda era
Porém Deus sempre manda a primavera
Perfumando de amor os corações.

Poeta, como estão as musas?

 



Sorriso fácil, olhar singelo, andar humilde. Essas eram algumas características do poeta Zé Vicente da Paraíba. Lembro-me de uma vez que me deparei com ele em um ônibus. Ele se sentou ao meu lado, perguntando: “Poeta, como estão as musas?”, referindo-se à inspiração para compor novos trabalhos. Eu ainda era um adolescente, com pouca criatividade. Ele me incentivou a continuar escrevendo e me entregou um papel com o mais recente poema da sua lavra, naquele momento.


Estávamos no início dos anos 2000. Era fácil topar com Zé Vicente pelas ruas de Caruaru, seja no Museu do Cordel, no Projeto Bebendo Poesia, na Fafica ou nas emissoras de rádio, mais precisamente nos programas de repentistas. Por trás de um corpo debilitado pela idade, havia um espírito iluminado, que diariamente bebia da fonte etérea da poesia.


Tive o privilégio de ouvi-lo cantar em um pé-de-parede no Bar do Vinho, tradicional estabelecimento situado no bairro do Cedro, onde eram promovidos eventos poéticos. Ao lado do também veterano Dedé Gonçalves, Zé Vicente mostrava que seu engenho mantinha-se vívido...


Seu nome é uma referência em nossa poética. Foi o primeiro cantador a gravar um LP do gênero|, em 1955. Autor de poemas como ‘Quanto é grande o Autor da Natureza’, gravado por um sem-número de artistas da MPB, como Zé Ramalho, Jorge Mello, Alceu Valença e Marília Pêra. Com tantos atributos que não cabem nestas linhas.


Voou para o Céu no dia 09 de maio de 2008. Se estivesse entre nós, teria completado 100 anos no último dia 07 de agosto. Às vezes, andando por Caruaru, sinto que o ouvirei perguntar-me: “Poeta, como estão as musas?”. Saudade.



Texto: Jénerson Alves

Foto: Euclides Ferreira

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Andreza Ferreira: “Gosto de fotografar as coisas como elas são”

 


Vamos começar mais uma série de entrevistas semanais no Instagram e no Blog. Agora, com a fotojornalista Andreza Ferreira, que fala sobre os desafios e as delícias da arte de fotografar. Confira.


Na sua opinião, fotografia é arte?

Sim, eu considero arte, porque requer habilidade e sensibilidade no olhar. Isso são características de um artista. Há fotógrafos e fotógrafos. Há crianças que fotografam bem, no enquadramento correto, por exemplo; mas existem os artistas, que contam uma história em uma foto – ou em um ensaio, que é uma sequência de fotos no mesmo ambiente. Às vezes, nem precisa contar uma história, mas retratam uma pessoa captando uma expressão da pessoa em uma foto só.



Você faz fotografia lifestyle de família. Quais os desafios e delícias deste segmento?

Fazer fotografia lifestyle de família é uma das minhas favoritas. Para mim, o maior desafio é lidar com uma cultura impregnada em algumas famílias de querer fazer fotos iguais às de outras pessoas. Entendo que cada família é única e quero registrar essa autenticidade. A delícia de fotografar em família é registrar a verdade daquela família, inclusive das crianças, de maneira natural e tranquila.

Outra coisa muito legal é ter contato com várias famílias, acompanhar o crescimento delas. Fotografo desde 2013. Então, registrei fotos de bebês que hoje já são grandes. Isso é emocionante, pois posso acompanhar e conhecer novas histórias que fazem parte do ciclo da vida.


A sua formação em Jornalismo gera impactos em sua produção atual?

Com certeza, faz total diferença. Talvez se eu tivesse começado a fotografar sem essa formação, eu não fosse tão feliz e realizada hoje. Eu comecei o curso de Jornalismo sem nem pensar em fotografia. Foi durante a cadeira de Fotojornalismo que me apaixonei pela área. Para mim, a melhor coisa do mundo é registrar as coisas que acontecem. Gosto de fotografar as coisas como elas são, seja um parto, uma festa infantil ou uma campanha política.


Que mensagem você daria a quem deseja ingressar no mercado da fotografia?

Para quem deseja entrar na fotografia, sugiro que faça alguns questionamentos, como eu fiz para mim mesma. Pergunte-se: “eu gosto mesmo de fotografa?”, porque, mesmo gostando, surgem situações que nos põem em dúvida sobre seguir ou não. É muito cansativo, muito exaustivo. É fotografar, selecionar, editar… você trabalha antes, durante e depois.

Após decidir viver de fotografia, você tem de se jogar. É preciso ter um equipamento adequado. O olhar é mais importante, mas um bom equipamento ajuda bastante – e isso é muito caro. E, sempre se informa. Ouça música, assista a filmes, treine a sua sensibilidade, perceba as pessoas. Seja um bom observador. E, principalmente, seja humano. Como em outras áreas, há pessoas que entram na fotografia só pensando em dinheiro, mas isso não é tudo. Faça parte do processo. Seja humano e amigo dos seus clientes, isso vai gerar confiança e levar você para muito longe.





Vou levar Lady Gaga para ouvir um baião de viola nordestina - Jénerson Alves

Mote e glosas: Jénerson Alves   Foto: Wikipedia Lady Gaga, cantora americana, É famosa demais no mundo inteiro, Fez um show lá no Rio de J...