Pelos olhos de Maria,
Se acaso eu pudesse ver,
Faltando menos de um mês
Pr’o milagre acontecer.
Por certo, ela estava orando;
E cada segundo contando
Pr’o Filho de Deus nascer.
II
Maria seguia a lida
Entre ternas orações.
Nos seus seios, o colostro;
No seu ventre, contrações;
No seu coração, amor
Por gerar o Salvador,
Desejado das nações.
III
A Doce Mãe do Senhor
Recordava todo dia
Da visita do Arcanjo
Com a voz da profecia.
Hoje, o relato nós lemos.
Como o Arcanjo, dizemos:
“Agraciada Maria!”
IV
Santa Virgem visitada
Pelo Anjo de Elohim,
Disse a ele: “Eis Tua serva,
Cumpra Teu querer em mim”.
Da maneira de Maria,
Devemos nós todo dia
Falar para Deus assim.
V
Se uma flor tivesse voz,
Qual seria a voz da flor?
Seria qual voz daquela
Que gerou o Redentor,
Nazarena meiga e calma,
Que dizia: “Minha alma
Se alegra no meu Senhor”.
VI
Quando o Bebê dava ‘chutes’
Com os santos pezinhos Seus,
São José se aproximava
Pra sentir seus apogeus.
Nobre servo de Adonai
Eleito pra ser o pai
Do Unigênito de Deus.
VII
Talvez às dezoito horas
Foi a Anunciação.
E o que fazia a Virgem?
Qual a sua ocupação?
No que Maria pensava?
Não há dúvida: ela estava
Em fervorosa oração.
VIII
Maria, ao certo, lembrava
Que ao Anjo disse “sim”,
Da estada com Isabel
Na Vila de Ain-Karim,
Porque, neste mundo incerto,
Ter a família por perto
Gera proteção sem fim.
IX
Ao visitar Isabel,
Gestante de poucos meses,
O canto “Magnificat”
Louva a Virgem dos corteses,
Talvez querendo ensinar
Que a ação de cantar
É como orar duas vezes.
X
Maria com Isabel:
Tanta alegria e amor!
Isabel sentiu em si
O mover do precursor:
João – no ventre materno –
Trazia o recado eterno
Da vinda do Salvador.
XI
O mundo estava perdido,
Sem vida, verdade ou via...
Na “plenitude dos tempos”,
Como Paulo escreveria,
Deus enviou o Seu Filho,
Para ao mundo trazer brilho
E a mais perfeita alegria.
XII
Maria e José se tornam
Farol pra todo casal:
Ele, de espírito justo,
Ela, de fé sem igual,
Pr’os casais de hoje dão
Doces lições de união
E honra matrimonial.
XIII
Maria, na sua vida,
Enfrentou dores constantes,
Mas junto de São José
Viveu dias exultantes,
Dois que se tornaram um
Mostrando que o lar comum
Tem desígnios fascinantes.
XIV
Lembrando o santo casal,
Às vezes fico a pensar:
Quem sabe um anjo visite
Toda formação de lar
Entoando um puro hino...
Há um mistério divino
No seio familiar!
XV
Olhando o mundo moderno,
Frágil de amor e fé,
E lembrando o simples casal
Da humilde Nazaré,
Melhor o mundo seria
Tendo em cada mãe, Maria;
E em cada pai, José.
XVI
Maria, a voz da pureza
Como um toque de alaúde,
José Carpinteiro tinha
Um emprego muito rude,
Mas um coração afável
E um jeito de ser estável
De indescritível virtude.
XVII
No solstício de inverno,
Pós-festa de Chanukah,
César publica o Edito,
E um novo censo se dá:
Maria com São José
Dão adeus a Nazaré
Rumo a Belém de Judá.
XVIII
Segue o casal peregrino
Sem ajuda de ninguém
Cinco dias de viagem,
Porém firme se mantém,
Calor de altos termômetros:
Cento e quarenta quilômetros,
De Nazaré a Belém.
XIX
Durante os dias: estrada,
Poeira, enfado e calor.
Comida, por certo, escassa,
Da aurora ao sol se pôr,
E à noite, o casal se inclina:
A lua por lamparina
E o céu por cobertor.
XX
Sob o sol tão causticante,
Sobre a terra em seco pó,
Do deserto até Betânia,
De Betânia a Jericó,
A Virgem, a cada passo,
Sentia um maior cansaço,
Um enfado de dar dó!
XXI
De Jericó, mais um pouco,
Chegaram a Jerusalém,
Maria sentia até
Que nasceria o neném,
Mas o casal, fielmente,
Seguia os passos em frente
À cidade de Belém.
XXII
Brisa forte vem do sul
Na silente noite fria.
Chega o casal a Belém,
Em frenética sincronia,
Tudo é tão difícil, pois
Não se acha para os dois
Lugar na hospedaria.
XXIII
Completaram-se os dias
De Maria dar à luz,
Mas na cidade frenética
Um só clima se traduz:
"Para vós, não há lugares!".
Também hoje, em muitos lares
Não há lugar pra Jesus.
XXIV
Na frieza de uma gruta,
O feno foi cobertor,
Três estrelas numa só
Em singular resplendor,
Por um casal de judeus
Nasceu o Filho de Deus,
O eterno Redentor!
XXV
Ouve um grupo de pastores
Os coros angelicais:
"É nascido o Deus Menino,
E um novo tempo traz
Esperança às criaturas:
Glória ao Senhor nas alturas
E entre os homens haja paz!"
Autor: Jénerson Alves