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Cordel: É nascido o Deus-Menino - por Jénerson Alves

 



I

Pelos olhos de Maria,

Se acaso eu pudesse ver,

Faltando menos de um mês

Pr’o milagre acontecer.

Por certo, ela estava orando;

E cada segundo contando

Pr’o Filho de Deus nascer.


II

Maria seguia a lida

Entre ternas orações.

Nos seus seios, o colostro;

No seu ventre, contrações;

No seu coração, amor

Por gerar o Salvador,

Desejado das nações.


III

A Doce Mãe do Senhor

Recordava todo dia

Da visita do Arcanjo

Com a voz da profecia.

Hoje, o relato nós lemos.

Como o Arcanjo, dizemos:

“Agraciada Maria!”


IV

Santa Virgem visitada

Pelo Anjo de Elohim,

Disse a ele: “Eis Tua serva,

Cumpra Teu querer em mim”.

Da maneira de Maria,

Devemos nós todo dia

Falar para Deus assim.


V

Se uma flor tivesse voz,

Qual seria a voz da flor?

Seria qual voz daquela 

Que gerou o Redentor, 

Nazarena meiga e calma,

Que dizia: “Minha alma

Se alegra no meu Senhor”.


VI

Quando o Bebê dava ‘chutes’

Com os santos pezinhos Seus,

São José se aproximava

Pra sentir seus apogeus.

Nobre servo de Adonai

Eleito pra ser o pai

Do Unigênito de Deus.


VII

Talvez às dezoito horas

Foi a Anunciação.

E o que fazia a Virgem?

Qual a sua ocupação?

No que Maria pensava?

Não há dúvida: ela estava

Em fervorosa oração.


VIII

Maria, ao certo, lembrava

Que ao Anjo disse “sim”,

Da estada com Isabel

Na Vila de Ain-Karim,

Porque, neste mundo incerto,

Ter a família por perto

Gera proteção sem fim.


IX

Ao visitar Isabel,

Gestante de poucos meses,

O canto “Magnificat”

Louva a Virgem dos corteses,

Talvez querendo ensinar

Que a ação de cantar

É como orar duas vezes.


X

Maria com Isabel:

Tanta alegria e amor!

Isabel sentiu em si

O mover do precursor:

João – no ventre materno – 

Trazia o recado eterno

Da vinda do Salvador.


XI

O mundo estava perdido,

Sem vida, verdade ou via...

Na “plenitude dos tempos”,

Como Paulo escreveria,

Deus enviou o Seu Filho,

Para ao mundo trazer brilho

E a mais perfeita alegria.


XII

Maria e José se tornam

Farol pra todo casal:

Ele, de espírito justo,

Ela, de fé sem igual,

Pr’os casais de hoje dão

Doces lições de união

E honra matrimonial.


XIII

Maria, na sua vida,

Enfrentou dores constantes,

Mas junto de São José

Viveu dias exultantes,

Dois que se tornaram um

Mostrando que o lar comum

Tem desígnios fascinantes.


XIV

Lembrando o santo casal,

Às vezes fico a pensar:

Quem sabe um anjo visite

Toda formação de lar

Entoando um puro hino...

Há um mistério divino

No seio familiar!


XV

Olhando o mundo moderno,

Frágil de amor e fé,

E lembrando o simples casal

Da humilde Nazaré,

Melhor o mundo seria

Tendo em cada mãe, Maria;

E em cada pai, José.


XVI

Maria, a voz da pureza

Como um toque de alaúde,

José Carpinteiro tinha

Um emprego muito rude,

Mas um coração afável

E um jeito de ser estável 

De indescritível virtude.


XVII

No solstício de inverno,

Pós-festa de Chanukah,

César publica o Edito,

E um novo censo se dá:

Maria com São José

Dão adeus a Nazaré

Rumo a Belém de Judá.


XVIII

Segue o casal peregrino

Sem ajuda de ninguém

Cinco dias de viagem,

Porém firme se mantém,

Calor de altos termômetros:

Cento e quarenta quilômetros,

De Nazaré a Belém.


XIX

Durante os dias: estrada,

Poeira, enfado e calor.

Comida, por certo, escassa,

Da aurora ao sol se pôr,

E à noite, o casal se inclina:

A lua por lamparina

E o céu por cobertor.


XX

Sob o sol tão causticante,

Sobre a terra em seco pó,

Do deserto até Betânia,

De Betânia a Jericó,

A Virgem, a cada passo,

Sentia um maior cansaço,

Um enfado de dar dó!


XXI

De Jericó, mais um pouco,

Chegaram a Jerusalém,

Maria sentia até

Que nasceria o neném,

Mas o casal, fielmente,

Seguia os passos em frente

À cidade de Belém.


XXII

Brisa forte vem do sul

Na silente noite fria.

Chega o casal a Belém,

Em frenética sincronia,

Tudo é tão difícil, pois

Não se acha para os dois

Lugar na hospedaria.


XXIII

Completaram-se os dias 

De Maria dar à luz,

Mas na cidade frenética 

Um só clima se traduz:

"Para vós, não há lugares!".

Também hoje, em muitos lares 

Não há lugar pra Jesus.



XXIV

Na frieza de uma gruta,

O feno foi cobertor,

Três estrelas numa só 

Em singular resplendor,

Por um casal de judeus

Nasceu o Filho de Deus,

O eterno Redentor!


XXV

Ouve um grupo de pastores

Os coros angelicais:

"É nascido o Deus Menino,

E um novo tempo traz

Esperança às criaturas:

Glória ao Senhor nas alturas

E entre os homens haja paz!"


Autor: Jénerson Alves 

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