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Mostrando postagens de maio, 2009

Um presente

Meu amor, perdoe-me nesta data Se o presente que tenho pra lhe dar Não é feito de ouro, nem de prata, Não é brinco, pulseira nem colar, É o meu coração, feito de carne Mas você, precisando, pode usar. Com você eu queria viajar Pr’ uma ilha pacífica do Atlântico, Onde à noite a sereia bem distante Pra nós dois entoasse um belo cântico, Mas só posso lhe dar esse poema, Que não é nem bonito nem romântico. Num cenário de luz, amor e cântico, Eu queria lhe dar hoje uma mina, De ouro, prata, topázio, diamante, Esmeralda, rubi ou turmalina, Mas a mina que tenho só possui Os acordes da lira nordestina. Quero dar-lhe o fulgor que ilumina As estrelas que brilham sem parar, Betegeusa, Arcturus, Procyon, Altair, Vega, Spica e Achernar, Mas só posso lhe dar como presente O sincero carinho em meu olhar. Com pincel, eu queria lhe pintar Numa tela bendita, uma só vez, Mas não tenho o talento de Monet, Renoir ou qualquer pintor francês, Pra deixar registrada a santa imagem Da mulher mais bonita que Deu

Pior poderia ser

Na vida de professor Uso lápis, papel, giz, Quem vê ironiza e diz Que eu sou mesmo um “sofressor”. Sala de aula é terror Que assusta o meu viver, Aluno sem aprender, Grosseiro e mal-educado, Mas não tô desempregado Pior poderia ser. Amo tanto uma donzela Doce, meiga, sã, sensata, Pura, fofa, chique, gata, Talentosa, santa e bela... Seu laço com o dono dela, Ela não quer desfazer, Eu lamento por não ter Chance de tê-la comigo, Ao menos sou seu amigo, Pior poderia ser. Eu estou muito doente, Com reumatismo e hepatite, Cistite e labirintite, Gonorréia e dor de dente, Tumor maligno latente Que acentua o meu sofrer, Tô quase sem poder ver E sou soropositivo, Pelo menos estou vivo, Pior poderia ser. Meu casebre defasado Tem rato entrando e saindo, As paredes já caindo E o portão enferrujado, O teto é esburacado E após o Sol se esconder, Luz não preciso acender, Utilizo a luz da Lua, Mas se eu morasse na rua Pior poderia ser. Meu carro é uma Brasília Que uso pra trabalhar, Pra pegar tem que e

Palavras soltas

Vou escrever neste blog – que tem tudo a ver comigo. Nem o blog é lido, nem eu sou ouvido. Sinto tantos pensamentos latentes em meu coração, mas nem meus lábios conseguem convertê-los em palavras, nem há ouvidos disponíveis a tentar compreendê-los. E assim, meus pensamentos ficam aprisionados nas camadas mais profundas do meu coração. De tal forma que, às vezes, nem eu mesmo me compreendo. Um pedaço de mim falta para me completar. Estou repleto de um vazio que me torna um nada diante de mim. Quero entender os porquês dos prantos contidos, dos sorrisos abortados, do enfado eterno, da dor incessante... Quero entender porque nada entendo. Quero olhar para dentro de mim e encontrar um motivo para ir em frente. Que nada! Isso é besteira…

Mãe sem filho

Eu vi uma velhinha então sentada, Com uma face tristonha, mas singela. Sem pensar que pensei, juntei-me a ela, Lhe saudei, mas ficou ela calada. Eu olhei que ela olhava para o nada, Como quem já está sem trajetória, Um vivente vivendo de memória, Sempre presa no mundo do sufoco. Levantei-me. Ela disse: espere um pouco, Deixe, filho, eu contar-lhe minha história. Balançando a cabeça, eu disse sim, Sem sair som algum da minha boca. A velhinha falou-me com a voz rouca: O meu tempo na terra está no fim. Eu fui boa pra quem foi ruim pra mim Que destino perverso é esse meu! Vi meu filho nascer, depois cresceu, Se tornou homem sério, rico e forte, Mas eu lembro que é má a minha sorte Porque ele de mim se esqueceu. Está ele na flor da juventude Sem notar que eu estou envelhecendo. Quanto mais o seu nome está crescendo, Mais meu nome vai pra decrepitude. Quando viu que perdi minha saúde, Ele disse que achou seu maior tédio. Recusava sair do próprio prédio Pra levar-me pro médico no hospital. Se