quinta-feira, 21 de julho de 2016

“Cum dixerint pax...”

Foto copiada do site http://www.rainbowschools.ca/

por Jénerson Alves


Quando disserem: “há paz”, mas os jovens ainda forem extremamente mal-educados, sem significados, sem sonhos, sem altruísmo, o mundo permanecerá sendo um barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento.

Quando disserem: “há paz”, mas os idosos ainda forem lançados em um calabouço social, de modo que os cabelos brancos deixem de representar respeito e serenidade e passem a ser coisa alguma, esta paz dita será apenas um engodo, uma falácia, uma fantasia.

Quando disserem: “há paz”, mas as crianças ainda forem desorientadas, deseducadas, desestimuladas, o que haverá será apenas um estado de letargia, de esvaziamento, de desesperança.

Quando disserem: “há paz”, mas a alma das pessoas ainda não for o foco das ações dos líderes – de qualquer instância, seja ela municipal, estadual, federal, institucional, sindical, ou qualquer outra –, o que haverá tão-somente será calmaria, massificação, controle.

Quando disserem: “há paz”, mas a categorização das pessoas ainda permanecer, de modo que o ser humano acredite ser capaz de distinguir quem é quem – ou como se as configurações étnicas, estéticas, religiosas, filosóficas, políticas ou familiares fossem conceitos fechados que delimitam os espíritos –, o que haverá não passará de tola tolerância.

Quando disserem: “há paz”, mas os corações ainda estiverem militarizados com ódio, rancor, preconceito, autossuficiência, egoísmo, soberba e ganância, as armas exteriores permanecerão sendo representações materiais de armas interiores, venenos que matam sutilmente, quebrando e rachando relações externas e internas, desumanizando o alvo e o cerne.


Quando disserem: “há paz”, mas essa paz não vir de dentro para fora, não for produto da consciência, não nascer da essência e do espírito, não exceder todo entendimento, todo contexto, toda particularidade da existência, essa paz não será verdadeira. E se precipitará repentina destruição... Ainda muitas águas correrão por muitas pontes, e o que virá ainda não será o que se espera. Só haverá paz quando for possível enxergar além do véu. Mas, há quem queira enxergar?

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Rogério Meneses, Cidadão de Caruaru



Cantor da história e das crenças de um povo
Que vive, que sonha, que luta e persiste.
Por trás dos véus negros, vê um mundo novo
Gerando acalanto em quem vive triste.
A sua viola é harpa dourada
Que em Caruaru é emoldurada,
Sinônimo de graça, exemplo de glória,
Talento inconteste que não há quem tome,
E o livro do tempo registra teu nome,
Rogério Meneses, cravado na história.


Mais que Castro Alves, faz verso engajado
E decanta o amor melhor que Vinicius;
Igual a Flaubert, é mui destacado,
Feito Baudelaire expressa suplícios.
Forjado em ideias de um novo amanhã
De Freire, Guareshi, Betto e Florestan,
Vê nos livros fonte que jorra e produz.
Buscando saberes, formando conjuntos,
Fazendo sinapses de vários assuntos
Vendo no horizonte o Mestre Jesus.

É quase um Parnaso sua moradia.
Na família, o cerne do saber dos sábios.
Guarda nas palavras que o pai lhe dizia
Preciosas pérolas de mil alfarrábios.
Tem nas amizades a sua riqueza.
Passado de luta; presente, grandeza,
Devir de bons frutos, de planta florida.
Doutor da viola, sem ser diplomado.
Formado em liceus, mas melhor formado
Pela faculdade chamada de vida.

Herói do repente, da trova e toada,
Sem nódoa no verso, sem mácula na rima.
Do ventre da terra de Imaculada
Pra terra onde o barro é matéria-prima.
É Deus, Santo Oleiro, cultor dos teus traços,
Autor dos teus sonhos, a luz dos teus passos,
Indelével Guia da Lei que não passa.
Quem tem fé no peito, a benesse atrai.
Teu quadro é luzente, é Deus o teu Pai
E Caruaru, como mãe, te abraça.


Jénerson Alves, 10.06.2016


Poema recitado na Câmara de Vereadores de Caruaru, em 10.06.2016, quando da entrega do título de Cidadão Caruaruense ao repentista paraibano Rogério Meneses, que reside na Capital do Agreste desde 1990.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

Foi escrita com sangue no madeiro a maior expressão de amor por mim



Vez em quando, eu padeço um aperreio,
Sem afeto, sem graça, sem amor...
Vejo o mundo, um porão assustador,
Que me enche de trauma e de receio.
Nesta hora, ao lembrar que Cristo veio
E derramou o Seu sangue carmezim,
Meu deserto floresce igual jardim
E o crisântemo do amor traz um bom cheiro.
Foi escrita com sangue no madeiro
A maior expressão de amor por mim.

Escrevi um poema de amor
E entreguei de presente à minha amada.
Ela leu, desdenhou, não disse nada
E eu fiquei lamentando a minha dor.
Mas lembrei que Jesus, o Salvador,
Fez da vida canção. E foi assim
Que a tristeza em meu peito teve fim
E hoje vivo feliz o tempo inteiro.
Foi escrita com sangue no madeiro
A maior expressão de amor por mim.

Jesus Cristo tombou pela poeira
Com o peso da cruz que carregou,
Mas Simão Cireneu O ajudou
A levar a cruz feita de madeira.
Ao chegar na colina da Caveira
Um ladrão zombou dEle com pantim,
Mas o outro, creu firme, e Cristo, enfim,
Deu perdão para aquele desordeiro.
Foi escrita com sangue no madeiro
A maior expressão de amor por mim.

Meio-dia, as sombras preenchiam,
E o povo bramava em várias vozes.
O Senhor deu perdão aos Seus algozes,
Por não terem noção do que faziam.
Sacras luzes da cruz 'inda irradiam
E às trevas da alma põem um fim,
Que a entrega do Filho de Elohim
Alforria quem sofre em cativeiro.
Foi escrita com sangue no madeiro
A maior expressão de amor por mim.

Contemplei o Senhor crucificado
No lugar meu e teu, de Barrabás,
Sobre Ele o castigo deu-me paz
E pelas Suas feridas fui sarado.
Lá na cruz fui remido, perdoado,
Escapei da prisão do 'Coisa Ruim',
Hoje canto do jeito de um vim-vim
Libertado no sangue do Cordeiro.
Foi escrita com sangue no madeiro
A maior expressão de amor por mim.


Jénerson Alves, 04.04.2016

quinta-feira, 17 de março de 2016

SERIA DIFERENTE?

por Marconi Aurélio e Silva, cientista político e jornalista

Em meio aos sucessivos escândalos políticos observados no Brasil, que se baseiam no desenho institucional "possível" de 1988, damo-nos conta que o modelo do presidencialismo de coalizão está saturado. Hoje percebemos que, apesar de termos uma democracia liberal (se considerarmos apenas a possibilidade da competição eleitoral e da escolha direta dos representantes por parte da população como a grande força motriz desse sistema), a decisão sobre o governo não passa pelo crivo direto do povo, entre outras coisas, porque:
1) Vereadores, Deputados Estaduais e Federais, sendo escolhidos pela proporcionalidade, proporcionam-nos legislativos pouco ou nada representativos, porém legitimados (vota-se em alguém para eleger outrem!!).
2) Os partidos políticos não representam bandeiras coletivas de "percepção de partes" do eleitorado e da população sobre o que é melhor pra todos, mas são continuamente utilizados para servir apenas como estrutura de manutenção de espaços de poder a seus "caciques" e associados, ávidos pelas regalias proporcionadas pelo Estado. Daí porque a grita que os Partidos querem o poder pelo poder, para garantir privilégios e benefícios individuais, custeados pela coletividade, não pra servir a causas coletivas.
3) O lobby ou "advocacy" não foi ainda regulamentado no Brasil, o que dá margem para diferentes tipos de práticas por parte dos grupos econômicos ou organizações e movimentos mais bem articulados que, diferentemente da massa de eleitores (pouco esclarecida e desarticulada), consegue atuar com maestria na efetivação de suas agendas e interesses.
4) Além do mais, financiando as campanhas políticas, empresas e setores econômicos terminam tendo benesses e estímulos próprios dos governos eleitos com seu apoio, a exemplo do que aconteceu na última eleição, quando o agronegócio, a construção civil e o setor financeiro fizeram os maiores aportes financeiros às campanhas de Dilma (PT) e de Aécio (PSDB). O que é pior, os 10 maiores doadores de campanha em ambos os casos, representam algo como 60% da arrecadação, um oligopólio econômico bastante influente...
5) Após eleito, raramente o Executivo possui base política de apoio no Legislativo que garanta a governabilidade. Isso quer dizer que o povo apenas indica quem vai participar das negociações e conchavos políticos entre novembro e dezembro, após as eleições, para montar o governo. E aí entra em jogo negociação de ministério, loteamento de espaços com cargos comissionados etc.
6) Desde 1988, nenhum presidente da República foi eleito com a efetiva maioria dos votos, posto que, historicamente, entre 25% e 30% dos votos são "desperdiçados" como brancos, nulos ou abstenções. 50% + 1 dos votos "válidos" desde a eleição de Collor, chega a representar pouco mais de 1/3 da população de eleitores. Daí termos um Executivo também pouco representativo, mas, legitimamente eleito.
7) Além do mais, sabemos que o Judiciário, a partir de um determinado nível hierárquico não é formado levando em conta apenas o mérito e, sim, indicações e escolhas políticas oriundas de outro Poder Republicano.
Dito isto, é até de se estranhar porque tanta surpresa com o resultado operacional de um sistema político extremamente clientelista, pouco coeso e "permitido" por uma população que, em sua maioria, ainda está excluída, em diferentes níveis, mas que também carrega uma cultura de ilícitos e de práticas contínuas de pequenas ou grandes corrupções.
A crise moral, ética e institucional que vivemos hoje no Brasil é um momento precioso para refletirmos o que queremos de fato. Ser um país sério não vai cair com a chuva, nem vai ser fruto de milagre ou trabalho de messias "salvador da pátria"...
A política somos nós, nossas escolhas e atitudes cotidianas!!! Eleger e não participar politicamente de outra forma, ao menos acompanhando a atuação etc. é tão nocivo quanto vender o voto.
Quando um sistema que, em essência, é para tratar do "bem comum" está permeado pela individualidade e pela cultura do "salve-se quem puder", o que podemos esperar senão crises cíclicas que continuam tendo como único objetivo, infelizmente, tirar quem está para colocar que ainda não chegou, ao invés de ser aperfeiçoar e melhorar o sistema?
A questão é simples: investimos seriamente na educação para a cidadania desde a 1a. infância, julgamos e punimos TODOS os desmandos e grupos que destróem nosso patrimônio coletivo a partir do mau uso do poder e das instituições, aperfeiçoamos os instrumentos de transparência e de controle social do poder, participamos com mais tempo e qualidade democrática e renovamos nossas instituições ... ou continuaremos a ter um sistema que induz à corrupção, que gera assimetrias e que impõe sobre o cidadão que o elegeu e acreditou, todos esses desmandos que já estamos acostumados a ver no Brasil.
A inovação democrática disruptiva é essencial nesse momento! Poderia ser a agenda de fronteira de cientistas sociais e de humanidades pelos próximos anos... Um sistema que empodere o cidadão, mas que também o eduque a entender as razões e perspectivas divergentes dos demais; e que, sobretudo, dê a todos a capacidade de superar estas divergências para construir juntos soluções para todos. Precisamos unir-nos, apesar da diversidade!!
Não vejo escuridão nessa crise, apenas oportunidades. Mas, será que estamos mesmo preparados para realizar esse salto civilizacional?



quinta-feira, 3 de março de 2016

Um Mar que vem do Sertão

por Jénerson Alves
(Texto publicado na coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco)

Ao contrário do que supostamente profetizava Antônio Conselheiro, o sertão não vai virar mar, tendo em vista que já o é. Isso porque nasceu no Alto Sertão do Pajeú, mais precisamente no município de Tuparetama-PE, uma escritora que, até mesmo pelo nome, é um verdadeiro mar de versos. Estou me referindo a Mariana Teles, poetisa, declamadora e concluinte do curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco. Recentemente, ela lançou o livro 'Um Novo Mar de Poesias'. A obra, de produção independente, reúne cerca de seis dezenas de poemas em 201 páginas.

Filha do exímio cantador Valdir Teles e da professora Maria Elza, a garota – de 20 anos de idade – mescla em sua poética a resistência sertaneja com a sensibilidade feminina. No livro, percebe-se a interação entre universos distintos. A começar pela capa, cujo título destaca a palavra 'mar', seguido por uma ilustração que remete à grande porção de águas, mas também apresenta um cacto, símbolo da seca e das grandes porções de terras nordestinas. No interior do livro, há sonetos, motes, décimas, sextilhas, trovas e comentários sobre os mais diversos temas. Tanto o lirismo quanto a crítica social estão presentes na obra, passando pela fé e pela exaltação à terra. É possível encontrar nessas páginas resquícios da guria sertaneja que cresceu ouvindo cantoria e escrevendo versos, mas também da mulher que se forma em Direito e amplifica sua visão de mundo. É possível captar a essência de uma verdadeira amante das palavras, estejam elas na métrica das poesias ou nos artigos das leis.

Na realidade, o que se vê nos versos de Mariana é o espírito do ser humano, que se manifesta em suas mais variadas formas. São resultados de momentos de sensibilidade, instantes-já, captados com a essência semelhante aos improvisos do pai. Entre os trabalhos, pode-se citar o mote 'Do Batente de Pau do casarão', de Dedé Monteiro, glosado por ela com maestria e maturidade, que podem ser percebidos em estrofes como “No alpendre da casa que eu morava / tinha o gosto do doce da poesia. / Fora o terço, a novena, a cantoria, / outra festa por lá ninguém falava. / Quando o véu do poente desbotava, / que o sol apagava o seu clarão, / minha mãe acendia um lampião / e, pra provar que nasci ouvindo rima, / pai cantava um cordel sentado em cima / do batente de pau do casarão”.

No livro, ainda é possível enxergar novos olhares sobre a realidade social, por meio de motes como 'Sem primeiro cobrar EDUCAÇÃO, ninguém vai reduzir 'maioridade'', o qual ela apresentou em 2013, representando do movimento estudantil durante um ato contra a redução da maioridade penal, na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Na glosa, ela questiona: “Será justo cobrar de um infrator / que não teve direito a ter direito? / e é somente reflexo do efeito / de um sistema covarde e opressor [...]”. O Hino Nacional, o centenário de Luiz Gonzaga, a viuvez, a família, o amor e a infância são outros temas abordados nos versos da jovem poetisa. É impossível, neste artigo, ressaltar por completo a grandiosidade da obra de Mariana, até porque a literatura é carregada de plurissignificação. Portanto, meu desejo é apenas impelir o leitor a procurar beber das doces águas do mar de Mariana, cujo leito é o sertão, mas – como ela mesma afirma – trata-se de “um mar em busca do mundo”.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Mínimo Denominador Comum

por Fabrício Cunha dos Santos


De tantas coisas importantes que aprendi no tempo de convivência com o teólogo e filósofo Ed René Kivitz, um mestre por natureza, a principal de todas elas está numa folha, uma lauda só, só frente, datilografada há muitos anos e xerocada por mim...

Ele ainda era estudante universitário quando, numa reunião entre poucos amigos onde moravam, perto da faculdade, colocaram em pauta a seguinte questão: “qual seria a filosofia de uma igreja relevante”. Com a ajuda do grande filósofo Ariovaldo Ramos, escreveram ali uma lauda com uma filosofia do que seria uma boa proposta de comunidade cristã. Era seu mínimo denominador comum.

Ed René tornou-se pastor de uma grande igreja em São Paulo. Ao longo de seu ministério pastoral, procurou, conheceu, testou várias metodologias de igreja para, 20 anos depois, concluir que era aquela folha rabiscada de forma tão sincera e singela, há tantos anos, o resumo mais coerente de tudo o que procurara e vivenciara enquanto sistemas aplicáveis a uma comunidade. Aquela folha datilografada era a síntese de um sonho. Era tão sincera e leve, quanto densa e expressiva. Permitia que navegassem com liberdade por vários mares, sem perder a direção, aquele núcleo central que os manteria na rota, independente das possíveis intempéries.

Dia desses, revi minha caminhada existencial. Reavaliei a minha fé, solo sobre o qual pisei nos últimos muitos anos de minha vida. Repensei sobre minha vida, a vida ao entorno de mim, sobre as amizades, as decisões, as trajetórias possíveis, olhei, pensei, sorri, chorei, silenciei ao encontrar-me com meu passado, o mais longínquo e o mais recente.

Todos nós precisamos de uma lauda que seja, que nos mantenha vivos e caminhando n’alguma direção. Não que não possamos mudar os planos daquilo que escrevemos em algum momento da vida, mas algumas coisas devem ser tão sólidas, algumas poucas, que nos permitam transitar por terremos mais estranhos, ir e vir no diferente e mudar a direção quando necessário, tendo, na solidez desse mínimo, alguma segurança.

Meu mínimo denominador comum permanece o mesmo:

Tenho um mestre maior chamado Jesus de Nazaré e com Ele aprendi que:

o Toda e cada pessoa tem potencial para ser humana. Cada vez mais humana;

o Nossas relações devem se estabelecer sobre três alicerces, a reciprocidade, a alteridade e a incondicionalidade. Os relacionamentos afetivos e fraternais devem ser recíprocos. Nossa relação com a humanidade de ser de alteridade. E nossa paternidade e maternidade devem ser incondicionais em relação aos seres que gerarmos;

o A sociedade pode subverter a ordem na qual está estabelecida, trocando a competitividade pela solidariedade, o poder do dinheiro pela força do amor, a tendência ao acúmulo pela partilha e o juízo e a maldade pela graça e misericórdia.

Tento me alimentar desses três parágrafos, meu mínimo denominador comum, e seguir adiante. Tudo o mais é supérfluo.

Mas como é difícil.


domingo, 7 de fevereiro de 2016

Professor Reginaldo Melo

por Jénerson Alves

Texto publicado na Coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco - ed. 625

Ao lado de outros poetas de Caruaru, entrei no apartamento onde o professor Reginaldo Melo está internado há três semanas, em um hospital particular. Ele nos recebeu com alegria, apesar da fragilidade física. Com a voz bem cansada, quase inaudível, um dos primeiros assuntos que ele pediu foi: “Ajudem-me a publicar o cordel sobre o Rio Ipojuca, que já está pronto, só falta ser levado à gráfica”. Coincidentemente, ele estava com uma camisa de um Encontro sobre a questão hídrica que participou em Goiás.
Prof. Reginaldo (centro), ao lado de Espingarda do Cordel (e)
e Jénerson Alves (d)


Durante o encontro no quarto do hospital, ocorrido na última semana, quando Olegário Filho, Nelson Lima, Val Tabosa, Dorge Tabosa, Nerisvaldo Alves e eu o visitamos, comprometemo-nos em procurar os meios para imprimir o cordel sobre o Rio Ipojuca, sim. Além disso, vamos realizar – em nome da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel – um recital apenas com poemas do mestre Reginaldo.

O meio ambiente, a cultura e a sociedade estão entre os temas sobre os quais Reginaldo Melo mais se debruçou ao longo da vida. Por meio dos versos dos seus cordéis, muitas pessoas tiveram a consciência despertada para a coletividade. Ele fez da poesia um ofício quase sacerdotal, “por saber da importância / de ser um educador” (afirmou em uma estrofe).

Entre outros trabalhos de Reginaldo Melo que se encontram na “gaveta”, existe um cordel contando a história do Poder Legislativo. O texto foi escrito sob encomenda da Câmara de Caruaru, com ilustrações do jovem xilogravurista Espingarda do Cordel, que desponta como uma referência da nova geração nessa arte. Tudo está pronto desde o ano passado. A ideia é que o folheto seja impresso e distribuído nas escolas do município. Não tive acesso ao conteúdo, mas por conhecer o autor sei que o cordel consiste em uma verdadeira aula de cidadania, provocando a reflexão e conscientizando os jovens acerca da importância do protagonismo na política. Talvez por isso não seja interesse da atual legislatura viabilizar a impressão e distribuição desse folheto…



No meio dos poetas populares, o professor Reginaldo Melo tem a marca de não se curvar diante de dificuldades, mantendo-se fiel aos seus princípios. Atualmente, ele luta contra o carcinoma escamoso (uma doença cancerígena) e complicações no fígado. Sabemos que ele não vai se curvar diante das enfermidades. Recentemente, foi lançada na internet uma campanha para que ele comprasse um remédio nos Estados Unidos no valor de US$ 2.400. Todavia, sei que existe uma Lei Federal que dispõe acerca da obrigação do SUS em atender pacientes com câncer. Quero aqui provocar as autoridades e órgãos competentes para que a obra e a vida do professor Reginaldo Melo permaneçam servindo de inspiração para as novas gerações, a fim de que o sentimento de coletividade não se perca, fazendo raiar uma nova aurora. Para concluir, deixo uma estrofe em martelo agalopado, escrita por ele: Só teremos o estado de direito / Se lutarmos pela democracia / Praticar e defender cidadania / Não nos resta pensar de outro jeito / Se o ato de votar não for perfeito / E o voto for uma mercadoria / Se deixarmos levar por fantasias / Nosso drama jamais terá conserto Quando o nosso eleitor votar direito / Vamos ver o nascer de um novo dia”.

Vou levar Lady Gaga para ouvir um baião de viola nordestina - Jénerson Alves

Mote e glosas: Jénerson Alves   Foto: Wikipedia Lady Gaga, cantora americana, É famosa demais no mundo inteiro, Fez um show lá no Rio de J...