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Mostrando postagens de 2009

Perder...

Acho que estou começando a me especializar em perder. Sim. Às vezes, perder é a melhor opção. Mas não é qualquer perda, como quem perde um concurso ou um objeto qualquer. Não. É quem perde vida. Estou acostumado a perder vida. Vejo hipóteses que certamente me conduzirão a uma estrada frondosa, atapetada de benesses e belezas. Porém, tristemente percebo que estou fadado a palmilhar um caminho estreito, cheio de pedras e espinhos. Estou acostumado a perder. Rejeito a vitória. Repudio sorrir. Prefiro as lágrimas. Fico à vontade com elas. Cada qual tem sua cruz, eu já me acostumei com a minha. Percebo que os sorrisos ficaram para trás, que os meus sonhos são totalmente impossíveis, que os projetos não passam de rabiscos em uma folha de papel amarelada. Meus intentos de alegria são delírios. Habituo-me ao fracasso, pois assim, talvez, ele se torne menos doloroso. Sei que tenho de seguir os passos de um andarilho que foi crucificado. Igual a ele, preciso ser cuspido no rosto durante a trav

Esqueci...

Esqueci que era pra ter esquecido que o sol brilhou mais intensamente e que os anjos do Pai Onipotente entoaram um louvor mais sustenido. Passarinho cantou mais destemido, e a lua ficou mais prateada, e minha mente ficou mais inspirada pra poder escrever e recitar, esqueci de esquecer de me lembrar que esta data a você é dedicada. Esqueci de falar, mas não esqueço de pensar que você tem importância ficar ébrio ao lembrar sua fragrância, e feliz ao lembrar qual o seu preço. É distante demais seu endereço, mas a alma jamais 'tá afastada, que a cruz se tornou ponte fincada que pra sempre vai nos aproximar, esqueci de esquecer de me lembrar que esta data a você é dedicada. (Fiz pra quem essa poesia, de improviso?)

Se você me ouvisse…

Se as minhas palavras chegassem aos seus ouvidos, você saberia que o brilho dos seus olhos ilumina minha vida e que o seu sorriso é um bálsamo para a minha alma. Se, por acaso, você atentasse seu coração para minhas palavras, entenderia que o corpo vale mais do que as roupas; o saber é mais precioso do que o diploma; a essência é incontavelmente maior do que o 'status'. Se você não me negasse alguns minutos do seu tempo, teria sensibilidade para compreender que gaguejo quando tento abrir os portões do meu ser para outra pessoa, mas isso não a impede de entrar. Se seus olhos me enxergassem, você me consolaria quando eu lhe dissesse que, por ter consciência de que sou apenas pó, me envergonho de mim mesmo. Quero fugir das minhas limitações. Anelo viver uma noite eterna, repudio a chegada do amanhecer. Se meus convites implorando uma esmola de atenção tivessem sido atendidos – pelo menos por uma vez – eu não teria de guardar para mim mesmo a tristeza do não-ser, a saudade de um so

Meus dois lados

Quando olhei o teu corpo sedutor E senti teu aroma inconfundível, Tua pele macia, mão sensível, Os teus lábios se abrindo igual a flor. Tuas coxas divinas, tua cor, Esse teu abdômen definido, Eu só quis falar baixo em teu ouvido Versos francos de amor e de conquista Porque quis te ter à primeira vista, O meu lado viril foi atraído. Entretanto, bastou eu escutar Tua voz de piano divinal, Produzindo uma música lirial Incapaz de outra ninfa interpretar. Eu senti algo novo me tocar (Eu não sei exprimir, mas me tocou), Todo meu coração se transformou, Não consigo explicar o que senti, Não sei como ocorreu, porém por ti O meu lado mulher se apaixonou. Quando eu quero fazer-te minha dama, Abraçar-te pertinho e apertado, Te fazer um carinho apimentado Te pedir que apagues minha chama, Desnudar o teu corpo em minha cama, Saciar teus desejos de mulher, Puxar os teus cabelos com mister, Beijar todo teu corpo pouco a pouco, Ficar ébrio de amor igual um louco, O meu lado de homem é o que quer. Quan

Um presente

Meu amor, perdoe-me nesta data Se o presente que tenho pra lhe dar Não é feito de ouro, nem de prata, Não é brinco, pulseira nem colar, É o meu coração, feito de carne Mas você, precisando, pode usar. Com você eu queria viajar Pr’ uma ilha pacífica do Atlântico, Onde à noite a sereia bem distante Pra nós dois entoasse um belo cântico, Mas só posso lhe dar esse poema, Que não é nem bonito nem romântico. Num cenário de luz, amor e cântico, Eu queria lhe dar hoje uma mina, De ouro, prata, topázio, diamante, Esmeralda, rubi ou turmalina, Mas a mina que tenho só possui Os acordes da lira nordestina. Quero dar-lhe o fulgor que ilumina As estrelas que brilham sem parar, Betegeusa, Arcturus, Procyon, Altair, Vega, Spica e Achernar, Mas só posso lhe dar como presente O sincero carinho em meu olhar. Com pincel, eu queria lhe pintar Numa tela bendita, uma só vez, Mas não tenho o talento de Monet, Renoir ou qualquer pintor francês, Pra deixar registrada a santa imagem Da mulher mais bonita que Deu

Pior poderia ser

Na vida de professor Uso lápis, papel, giz, Quem vê ironiza e diz Que eu sou mesmo um “sofressor”. Sala de aula é terror Que assusta o meu viver, Aluno sem aprender, Grosseiro e mal-educado, Mas não tô desempregado Pior poderia ser. Amo tanto uma donzela Doce, meiga, sã, sensata, Pura, fofa, chique, gata, Talentosa, santa e bela... Seu laço com o dono dela, Ela não quer desfazer, Eu lamento por não ter Chance de tê-la comigo, Ao menos sou seu amigo, Pior poderia ser. Eu estou muito doente, Com reumatismo e hepatite, Cistite e labirintite, Gonorréia e dor de dente, Tumor maligno latente Que acentua o meu sofrer, Tô quase sem poder ver E sou soropositivo, Pelo menos estou vivo, Pior poderia ser. Meu casebre defasado Tem rato entrando e saindo, As paredes já caindo E o portão enferrujado, O teto é esburacado E após o Sol se esconder, Luz não preciso acender, Utilizo a luz da Lua, Mas se eu morasse na rua Pior poderia ser. Meu carro é uma Brasília Que uso pra trabalhar, Pra pegar tem que e

Palavras soltas

Vou escrever neste blog – que tem tudo a ver comigo. Nem o blog é lido, nem eu sou ouvido. Sinto tantos pensamentos latentes em meu coração, mas nem meus lábios conseguem convertê-los em palavras, nem há ouvidos disponíveis a tentar compreendê-los. E assim, meus pensamentos ficam aprisionados nas camadas mais profundas do meu coração. De tal forma que, às vezes, nem eu mesmo me compreendo. Um pedaço de mim falta para me completar. Estou repleto de um vazio que me torna um nada diante de mim. Quero entender os porquês dos prantos contidos, dos sorrisos abortados, do enfado eterno, da dor incessante... Quero entender porque nada entendo. Quero olhar para dentro de mim e encontrar um motivo para ir em frente. Que nada! Isso é besteira…

Mãe sem filho

Eu vi uma velhinha então sentada, Com uma face tristonha, mas singela. Sem pensar que pensei, juntei-me a ela, Lhe saudei, mas ficou ela calada. Eu olhei que ela olhava para o nada, Como quem já está sem trajetória, Um vivente vivendo de memória, Sempre presa no mundo do sufoco. Levantei-me. Ela disse: espere um pouco, Deixe, filho, eu contar-lhe minha história. Balançando a cabeça, eu disse sim, Sem sair som algum da minha boca. A velhinha falou-me com a voz rouca: O meu tempo na terra está no fim. Eu fui boa pra quem foi ruim pra mim Que destino perverso é esse meu! Vi meu filho nascer, depois cresceu, Se tornou homem sério, rico e forte, Mas eu lembro que é má a minha sorte Porque ele de mim se esqueceu. Está ele na flor da juventude Sem notar que eu estou envelhecendo. Quanto mais o seu nome está crescendo, Mais meu nome vai pra decrepitude. Quando viu que perdi minha saúde, Ele disse que achou seu maior tédio. Recusava sair do próprio prédio Pra levar-me pro médico no hospital. Se

Sei não, sabe?

Sim... Sei... a vontade de fugir para não se sabe onde, porque onde se está parece não fazer parte de nós... Sei... Vontade de voltar... não sei se para a infância, para o útero, ou para... - talvez - o Pai... Sei... Sim... Vontade de chorar, lágrimas latentes que clamam para ser jogadas para fora. Quem sabe elas irriguem um pouco do coração, e tornem a terra menos árida... Sei, sim. Aquela coisa inexplicável, que ninguém entende, mas quem já sentiu sabe... Olha, pode parecer loucura, mas... sabe?