por Jénerson Alves (texto publicado na coluna Dois Dedos de Prosa, do Jornal Extra de Pernambuco)
Não
assisto a novelas. Aliás, pouco assisto televisão. Toda vez que
alguém liga o aparelho lá em casa, eu entro no quarto e leio um
livro. Porém, pelas redes sociais foi que descobri que existe uma
novela com o mesmo título do capítulo 20 do livro bíblico de
Êxodo. E que, durante a semana, houve a exibição da clássica cena
da passagem pelo Mar Vermelho. A produção chegou a alcançar o
primeiro lugar no Ibope, com 31 pontos de audiência em São Paulo –
em
Recife, teve média de 32,5 pontos.
Na
realidade, eu me recordava do filme 'Os dez mandamentos', dirigido
por Cecil B. DeMille e estrelado por Charlton Heston e Anne Baxter. A
obra, dos anos 50, é considerada um dos melhores filmes de todos os
tempos. O enredo, claro, é a vida de Moisés, personagem bíblico
que foi colocado nas águas em um cesto, mas foi adotado por uma
princesa egípcia e depois tornou-se o libertador dos hebreus.
Porém,
Moisés não é somente um protagonista de cinema e de TV. Durante
muito tempo, céticos discordavam da possibilidade da existência de
Moisés, dizendo que a história do Êxodo teria sido uma adaptação
do mito de Sargão I, rei que governou a Babilônia na segunda metade
do 3º milênio a.C. Atualmente, há diversos estudiosos que
acreditam na veracidade do personagem e da narrativa. Segundo esses
intelectuais, o Êxodo teria ocorrido por volta de 147 a.C. e Moisés
teria sido contemporâneo de Tutmés II, o qual seria meio irmão e
marido da princesa Hatshepsut (que o teria adotado).
As
contribuições de Moisés para os dias de hoje ainda são
fascinantes e adentram no ambiente político. Ao contrário da ideia
de que a Grécia foi o berço da democracia, historiadores da estirpe
de Vishal
Mangawaldi apontam
que foi a partir da Bíblia que os Estados Unidos consolidou sua base
democrática. Foi com Moisés, que instituiu um governo baseado na
Lei, contando com a ajuda de líderes escolhidos pelo povo. Esse
relato está no capítulo 18 do Êxodo. Perceba que é uma ótica
bastante distinta da grega – defendida por Platão –, que
entendia o governo do filósofo rei como o mais eficiente.
Mais
do que mote para efeitos especiais, por intermédio da vida de Moisés
é possível encontrar inspiração para a vida. As influências
deste personagem vão além dos efeitos especiais que espetacularizam
as novelas e filmes. Meditar nesta narrativa pode gerar como efeito a
adoção de um projeto de vida especial e fascinante. Afinal de
contas, segundo a Bíblia, foi Moisés quem recebeu de Deus os
tabletes com os Dez Mandamentos, como símbolo de um concerto eterno
entre a Trindade e o Seu Povo. Aquelas tábuas não são apenas
artefatos antigos, nem correspondem a uma série de normas
instituídas. São princípios que oferecem soluções para a vida de
cada um de nós. Acredito que em nenhuma outra fase da história da
humanidade foi tão necessário ouvir expressões como “Não
matarás; honrarás teu pai e tua mãe; não adulterarás; não dirás
falso testemunho; lembra-te do Sábado (dia do descanso)” e,
principalmente, “Não terás outros deuses diante de Mim”. Mais
do que ouvi-las, é necessário refletir sobre elas, até que elas
entrem no coração e tomem conta da existência. Isso não ocorre
por meio de concepções cinematográficas, mas da decisão
particular. Essa Lei que libertou os hebreus dos grilhões egípcios
consiste em princípios que podem libertar o ser humano das algemas
líquidas do tempo presente.